Oeiras chega a acordo com o Estado para reabilitar Cartuxa de Caxias
Antigo convento vai ser cedido à autarquia por 42 anos e esta compromete-se a reabilitá-lo na próxima década.
A porta da igreja desenhada pelo arquitecto Carlos Mardel no século XVIII ainda se abre todos os domingos para a missa, mas é actualmente o único espaço do Convento da Cartuxa, em Caxias, que é utilizado. O edifício, com os seus dois claustros e ermidas, está abandonado há anos e a degradar-se progressivamente. Agora, por fim, vislumbra-se um plano para a recuperação de um património com mais de 400 anos.
A Câmara de Oeiras anunciou este domingo que chegou a acordo com o Estado para a cedência do antigo convento por um período de 42 anos. O protocolo com a Direcção-Geral do Tesouro e Finanças será assinado “em breve”, diz a autarquia, pondo fim a um período de negociações que se arrastou por vários mandatos.
“Andamos há anos a discutir. É uma coisa absolutamente kafkiana, não se compreende”, queixava-se há algumas semanas o presidente da câmara, Isaltino Morais, ao PÚBLICO.
A situação da Cartuxa de Caxias é semelhante à da antiga Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, que também pertence ao Estado mas está cedida à câmara desde o ano passado. Naquele caso, foi igualmente moroso levar o acordo a bom porto. A cedência só se efectivou quando o património arquitectónico e artístico ali existente, nomeadamente na setecentista Casa da Pesca, estava já num ponto de degradação muito avançado. O recinto está agora em obras.
O antigo convento da Cartuxa, que desde 2019 está em vias de classificação pela Direcção-Geral do Património Cultural, situa-se na Quinta de Laveiras por decisão do Papa Clemente VII, que em 1597 decidiu que ali se deviam instalar os frades da ordem de São Bruno. Foi um de apenas dois conventos cartuxos em Portugal: o outro situava-se em Évora.
A um primeiro templo seguiu-se a construção de instalações maiores, incluindo igreja, refeitório, sala do capítulo e dois claustros, bem como as ermidas onde os cartuxos viviam em clausura. As obras começaram em 1614 e terminaram em 1736. Pouco depois, com o Terramoto de 1755, a igreja ficou danificada e teve de ser reconstruída.
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o convento ficou abandonado e degradou-se. Só no início do século XX voltaria a ser utilizado, como reformatório. Para cumprir a nova função, vários edifícios foram construídos na vizinhança do convento.
“Este conjunto patrimonial carece de intervenção urgente”, diz a Câmara de Oeiras em comunicado, comprometendo-se a investir 7,12 milhões de euros em obras ao longo dos próximos dez anos.