Desta lista sairão os sete sítios mais ameaçados da Europa
Europa Nostra identifica igrejas, palácios, jardins e caminhos-de-ferro em risco devido ao abandono ou à falta de investimento. Entre os bens em perigo há até cinco ilhas no Mar Egeu.
O estado a que chegaram é muitas vezes reflexo de desafios transversais que as sociedades enfrentam como um todo, da desagregação das pequenas comunidades à falta de dinheiro para investir em sectores que não são considerados prioritários, passando pelos projectos de desenvolvimento que ignoram o património ou as pessoas em nome do “progresso”.
A Europa Nostra, uma das mais importantes organizações europeias de defesa do património, publicou agora a sua shortlist dos 12 sítios mais ameaçados do continente.
A lista deste ano, de onde sairá, como é hábito desde 2013, o ranking final de sete, é muitíssimo diversificada, incluindo, por exemplo, um palácio barroco veneziano, cinco ilhas no Mar Egeu, um caminho-de-ferro austríaco do século XIX, com os respectivos comboios a vapor, naturalmente, e até um posto de correios na Macedónia.
Esta lista de 12 foi escolhida por um painel de especialistas a partir de sítios identificados pelas delegações que a Europa Nostra tem em vários países e por entidades locais que se dedicam à preservação e divulgação do património, explica o comunicado desta organização em que se faz a caracterização sumária de cada um destes bens de “importância extraordinária”.
É este documento que explica, também, que os técnicos responsáveis pela selecção levaram em linha de conta uma série de critérios em que se destacam, por exemplo, o envolvimento da população e das autoridades locais na preservação de determinado sítio e a possibilidade de este vir a servir de motor para o desenvolvimento sustentado da região em que se encontra.
Igrejas e palácios
O caminho-de-ferro no Tirol entrou para a lista porque a empresa que o explorava com propósitos quase exclusivamente turísticos faliu em virtude das restrições impostas pela pandemia de covid-19. O Teatro Moderno de Sofia, na Bulgária, um edifício de 1908 que foi um dos primeiros cinemas europeus, está ao abandono desde que fechou, em 2013. Tem as janelas partidas e as decorações da fachada em risco de desaparecer devido a actos de vandalismo.
Terramotos e tempestades de 2020 ditaram o estado de declínio de um cemitério do século XIX em Zagreb (Croácia), importante exemplar da arquitectura neoclássica europeia, e do Jardim Giusti, em Verona (Itália), que pertence à mesma família e está aberto ao público há 450 anos, hoje com dezenas de árvores caídas e esculturas e troços do sistema de irrigação destruídos.
A Igreja de Saint-Denis (século XV), a mais antiga do norte de França, e o Palácio Ca’Zenobio, no centro de Veneza (Itália), que foi um colégio arménio durante décadas e está vazio desde 1997, um problema para a manutenção dos seus interiores sumptuosos, são dois dos edifícios desta lista que inclui, até, património mundial — o Mosteiro Decani, no Kosovo, um dos mais bem preservados conjuntos medievais da Europa.
Este mosteiro rodeado de floresta, que apesar de protegido pelas forças da NATO foi várias vezes bombardeado entre 1999 e 2007 e alvo de um pequeno ataque reclamado pelo Daesh em 2016, enfrenta agora a pressão das autoridades locais que querem fazer passar junto ao seu portão uma auto-estrada e expropriar-lhe terrenos para a implantação de outros projectos de desenvolvimento, num claro desrespeito pela zona de protecção determinada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, na sigla inglesa). A comunidade de 25 monges que faz dele a sua casa tem-se oposto, naturalmente, a estes planos.
Homem e natureza
No que toca ao património que combina a natureza (mar e montanhas) com a mão humana (pequenas povoações, monumentos e sítios arqueológicos) há a salientar na lista de 12 bens cujo futuro preocupa a Europa Nostra cinco das ilhas Cíclades, onde o Governo de Atenas quer ver construído um parque eólico.
Os sete monumentos ou locais que constarem da lista final a divulgar em Março de 2021 deverão receber a visita dos arquitectos, historiadores, arqueólogos e financeiros que a Europa Nostra nomear, com o apoio mecenático do European Investment Bank Institute, para analisarem as suas condições estruturais e elaborarem propostas para travar a sua degradação ou promover a sua viabilidade económica.
Os relatórios técnicos destas visitas serão, mais tarde, entregues por este grupo de pressão às autoridades e aos meios de comunicação locais, na esperança de que a chamada de atenção para o estado em que se encontram desencadeie um movimento que trave o seu declínio ou promova a sua revitalização.