Centenas de rapazes raptados em ataque a uma escola na Nigéria

Homens armados atacaram escola secundária em Katsina, o estado do Presidente Buhari, horas depois de este ali chegar de férias. Militares nigerianos chegaram a encontrar atacantes mas 400 alunos continuarão desaparecidos.

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Mães dos estudantes desaparecidos junto à escola dos filhos AFOLABI SOTUNDE/Reuters
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Os pais dos alunos desaparecidos juntaram-se este domingo para uma reunião na escola AFOLABI SOTUNDE/Reuters
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Reuters

Seis anos depois do rapto de perto de 300 raparigas de escolas secundárias da vila de Chibok, no Nordeste da Nigéria, pelos terroristas do Boko Haram, os nigerianos reagiram este fim-de-semana com indignação a uma nova tragédia numa escola do país. As autoridades acreditam que 400 rapazes continuam desaparecidos depois do ataque a um colégio interno no estado de Katsina, onde estudam 600 a 800 alunos.

Usando o hasthtag #BringBackOurBoys, os nigerianos encheram o Twitter de críticas à situação de segurança do país e de denúncias sobre a falta de reacção do Presidente, Muhammadu Buhari​. Muitos estão indignados com Buhari por ainda não ter visitado o local do ataque, que aconteceu na sexta-feira à noite, poucas horas depois de chegar à sua cidade natal, Daura, no mesmo estado, para uns dias de férias. Daura fica a menos de 200 quilómetros do conselho local de Kancara, onde está situada a escola.

Aliás, a viagem aconteceu um dia depois de o chefe de Estado anular uma ida prevista à Assembleia Nacional, onde tinha concordado informar os deputados sobre os seus esforços para combater os problemas de segurança na Nigéria.

“O General Buhari está ali mesmo, em Katsina. Bandidos atacaram uma escola debaixo do seu nariz. Centenas de alunos podem estar desaparecidos. E tudo o que ele faz é emitir um comunicado. Nem sequer pode visitar a escola?”, escreveu este domingo, no Twitter, Reno Omokri, fundador de uma congregação cristã e apresentador de um programa de televisão religioso.

“Se 20 manifestantes pacíficos #EndSARS se juntassem, o Governo de Buhari declarava o recolher obrigatório”, escreveu na mesma rede o empresário Somto Onuchukwu, referindo-se aos protestos contra a brutalidade da força policial Esquadrão Especial Anti-roubo (SARS, em inglês), que juntaram centenas de milhares de nigerianos na rua em Outubro.

Alguns membros da oposição pediram a demissão do Presidente, notando que, pelo menos quando Buhari está por perto, os nigerianos deviam poder sentir-se seguros. “Este desenvolvimento expôs ainda mais os fracassos do Presidente para gerir os níveis de segurança que deve acompanhar uma visita destas”, reagiu o Partido Democrático do Povo, numa declaração citada pela edição nigeriana do jornal The Guardian.

“Aqui em Katsina a verdade é que não vemos o valor do Governo”, disse à Al-Jazeera Bint’A Ismail, mãe de uma criança desaparecida e irmã mais velha de outra, que estava na escola desde a madrugada de sábado à espera de notícias.

Sabe-se que o ataque começou entre as 22h e as 23h, quando os rapazes estavam nos dormitórios. Os atacantes chegaram de mota e começaram a disparar metralhadoras AK-47, tentando entrar na escola, descreveu o porta-voz da polícia do estado, Isa Gambo. Os seguranças ripostaram e a troca de tiros durou uma hora e meia. Entretanto, alguns alunos conseguiam fugir mas outro grupo de homens entrou na escola e raptou vários rapazes em carrinhas.

De acordo com Isa Gambo cerca de 400 alunos permaneciam desaparecidos no domingo. Pelo menos 200 foram resgatados ou regressaram sozinhos à escola, saindo dos seus esconderijos no sábado. Entretanto, outros foram directamente para as suas casas.

"Situação imaginável"

“A situação ultrapassa o imaginável”, disse o governador de Katsina, Aminu Masari, no sábado, depois de ordenar o encerramento de todas as escolas secundárias internas do estado. “Tenho assegurado aos pais que vamos fazer tudo o que for humanamente possível para salvar as crianças”, afirmou Masari, explicando que, enquanto falava, havia soldados envolvidos em confrontos com militantes que poderiam estar por trás do ataque.

Mas, para os nigerianos, em particular para os pais dos rapazes desaparecidos, é impossível não pensar nas 276 raparigas de Chibok, raptadas das suas escolas em Abril de 2014. A primeira só foi resgatada dois anos depois e 112 continuam desaparecidas. Dezenas foram entretanto obrigadas a casar com membros do Boko Haram, o grupo terrorista que espalha o terror no Nordeste da Nigéria, onde pretendia instalar um califado.

Katsina fica longe das áreas de actuação do Boko Haram mas nem por isso enfrenta menos violência. Segundo a Al-Jazeera, dois dias antes do ataque à escola de Kancara o ancião de uma aldeia e outras 20 pessoas foram raptadas no mesmo estado – os raptos, em muitos casos de estudantes, são cada vez mais frequentes no país.

Já no estado de Borno, o mesmo de Chibok e do Boko Haram, dezenas de trabalhadores de campos de arroz foram encontrados mortos há duas semanas. A insurreição lançada pelo Boko Haram em 2009 fez dezenas de milhares de mortos e obrigou dois milhões a fugir.

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