O voo teatral quando se tem Tchékhov por almofada
3 Irmãs usa a peça do dramaturgo russo como trampolim para um outro lugar, contemporâneo. Ana Sampaio e Maia, Joana Cotrim e Rita Morais são e não são Irina, Masha e Olga. Às vezes são apenas amigas; outras vezes, nem isso.
3 Irmãs começa onde as Três Irmãs de Tchékhov terminavam. Há um ambiente de ressaca, de festa ainda a baixar a temperatura, restos de comida e bebida espalhados pela mesa, fim da celebração de aniversário quando os corpos de Irina (Rita Morais), Masha (Joana Cotrim) e Olga (Ana Sampaio e Maia) começam a descomprimir, a descalçar-se, a deixar que o cansaço se instale. E instala-se também o natural vazio quando o silêncio preenche a casa de família e as palavras daquela noite parecem ter-se gastado. Sabemos que não é bem o texto de Tchékhov que temos diante de nós quando Masha consulta, entediada, o telemóvel. E mais evidente se torna quando Olga ainda esboça iniciar o texto que o russo escreveu em 1900, atirando as primeiras palavras da frase “Hoje faz exactamente um ano que morreu nosso pai” mas nem isso consegue concluir, interrompida de imediato pela sugestão de que Tchékhov seja abandonado e trocado por um jogo a três de “verdade ou consequência”.
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