Covid-19: saliva como meio de diagnóstico revela resultados promissores

Projecto que pretende evitar o recurso às zaragatoas na recolha das amostras é do Instituto Gulbenkian de Ciência em parceria com dois hospitais.

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Joana Carvalho/IGC

A utilização da saliva como meio de diagnóstico da covid-19 em todas as faixas etárias está a ser estudada pelo Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, e tem revelado resultados “muito promissores”, anunciou a instituição esta sexta-feira em comunicado. 

A investigação conjunta do IGC com o Hospital Dona Estefânia (Lisboa) e o Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) pretende desenvolver uma solução menos invasiva que os actuais testes de diagnóstico com recurso a zaragatoas, sobretudo para crianças e adolescentes.

O IGC destaca ainda, em comunicado, que outro benefício associado a este método é a possibilidade de aumentar a capacidade de testagem e reduzir os custos associados à realização da análise.

“Estamos a recorrer a amostras de casos positivos da doença covid-19 e a confirmar que a saliva pode ser usada eficazmente no rastreio de SARS-CoV-2 (o coronavírus que provoca a covid-19) em todas as faixas etárias, podendo aumentar a testagem e aproximarmo-nos de uma situação de auto-avaliação em casa, que seria um cenário ideal para diminuir a circulação do vírus”, diz, citada no comunicado, Maria João Amorim, a investigadora principal do IGC que lidera o estudo.

Até ao momento, o procedimento “foi validado em cerca de 80 pessoas hospitalizadas onde, entre outros, se comparou a eficácia da saliva face à amostra nasofaríngea, tendo sido obtidos resultados muito promissores”, refere o IGC. O estudo prevê testar um total de 300 pessoas, 33% das quais infectadas, de todas as faixas etárias. 

“O método de testagem actual é extremamente invasivo, principalmente para as crianças, envolve uma logística grande e dispendiosa e por isso é estratégico encontrar opções com claras vantagens para a população, pacientes e para o sistema nacional de saúde”, destaca, também no comunicado, Mónica Bettencourt Dias, directora do IGC.

A investigação incide no estudo de amostras tanto de adultos como de crianças, mas são os mais novos que recebem maior atenção, pois esta nova alternativa de teste promete ser indolor e muito mais rápida. 

Maria João Brito, médica responsável da Unidade de Infecciologia do Hospital Dona Estefânia, realça que a utilização de zaragatoas para diagnosticar a covid-19 “é uma técnica desconfortável para a criança e adolescente e exige pessoal experiente com treino, pelo que nem sempre é fácil de realizar”. 

“A logística necessária para a realização de testes na modalidade actual é muito pesada, não só pela estrutura física a que obriga como pela necessidade de alocar profissionais a esta actividade. Uma solução como esta vem ajudar-nos a aumentar o número de testes sem consumir tantos recursos humanos e financeiros”, sublinha, por sua vez, José Delgado Alves, director do Serviço de Medicina 4 do Hospital Fernando Fonseca.