Ensaio sobre a loucura política

A nossa salvação não está nos partidos, mas sim em nós próprios e nos individuais que elegemos, de forma directa ou indirecta, para representar as crenças e os credos de cada um.

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Jehyun Sung/Unsplash

Uma das frases que mais tenho ouvido sobre os últimos meses: “Estamos em 2020, está tudo louco.”

A questão é que a loucura sempre fez parte do avanço mundial, seja este na área científica, seja este nas artes, seja este no pensamento, seja este nas acções. A loucura, a par do sonho, trouxe a evolução que conhecemos nos dias de hoje e a mudança que os nossos sucessores conhecerão nos dias de amanhã. 

Posto isto, a política. Aristóteles afirmou que o ser humano “é um animal político” com alguma razão. Este pode chamar a si, se bem lhe aprouver, a capacidade de fazer política todos os dias, sem necessitar de ostentar um cartão cor-de-rosa, laranja, vermelho, ou azul.

Pode parecer ingénuo reiterar isto, numa altura como a que atravessamos, mas a política começa em nós — num pequeno gesto para com alguém que conhecemos, ou num apoio sem alarde para com aquele desconhecido de olhar vítreo, ou ainda para com o casal de idosos que trabalhou a vida inteira e resiste, sem saber quantos deputados tem a Assembleia da República ou como é que funciona o Sistema Político Eleitoral português. Porquê? Porque há 72 anos (e, mormente, nos dias de hoje) a informação, o ensino, o acesso ao saber não estavam democratizados. Porque a mudança leva o seu tempo, porque cabe a cada um de nós ser o veículo dessa mudança. Porque a Declaração Universal dos Direitos Humanos é, mais do que um papel, um guião para tudo o que a Europa ou mundo democrática/o ergueu, ou tinha de erguer, para continuarmos todos a ousar sonhar para ousar criar.

Acompanhem o raciocínio, que a emoção tolda, por vezes, a razão: precisamos da iniciativa privada, de forma a que esta possa ancorar o Estado a amparar quem nem sempre consegue estar em pé. Precisamos de iniciativa privada, respeitadora dos trabalhadores (vide direitos e deveres do cidadão), para gerar um ciclo de riqueza — ou sustento —, que deverá ser, posteriormente, dividida justamente. Precisamos deste círculo, que não é mais do que um trabalho em equipa, para munir de ferramentas um Estado Social, pluralista, que intervenha onde tem de intervir e que apoie quem tem de apoiar.

Voltemos ao vértice da política: se esta começa em nós, é em nós que vai continuar, nos tais pequenos gestos que, sem sabermos, poderão ser movimentos enormes para os outros. A nossa salvação não está nos partidos, mas sim em nós próprios e nos individuais que elegemos, de forma directa ou indirecta, para representar as crenças e os credos de cada um. Em suma, menos palavras, como as que acabei de gastar; mais acções para unificar-nos em períodos turbulentos.

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