Pedidos de mais de 100 crianças aguardam padrinhos na Refood de Faro
Cartas estão penduradas na árvore de Natal, todas com os pedidos dos filhos das famílias apoiadas. Refood irá “manter o contacto” com quem levar a carta e assim que tiver a prenda ela será armazenada para depois se fazer a entrega.
Mais de 100 crianças apoiadas pela Refood de Faro aguardam que a população apadrinhe uma iniciativa da instituição para a compra de presentes.
São muitas as cartas penduradas na árvore de Natal, todas com os pedidos dos filhos das famílias apoiadas pelo núcleo de Faro, que podem ser recolhidas pela comunidade para realizar os desejos dos mais novos. “Qualquer pessoa da comunidade que nos queira ajudar a proporcionar um Natal mais alegre a estas crianças, basta passar pela Refood, levar uma destas cartas, ver os desejos das crianças”, disse à Lusa Carlos Reis, um dos coordenadores em Faro da instituição, que recolhe e distribui refeições excedentárias de restaurantes, mas também confeccionadas por voluntários, e cabazes com alimentos.
A Refood irá “manter o contacto” com quem levar a carta e assim que tiver a prenda ela será armazenada para depois se fazer a entrega a todas as crianças. A ideia surgiu ainda na fase de confinamento, quando o movimento voluntário levava os cabazes a casa das famílias e se deparou com crianças que “deliravam com uma caixa de cereais”, destacou à Lusa Paula Matias, também coordenadora.
Para tentar “minimizar o impacto” que as famílias estão a ter este ano com a crise gerada pela pandemia de covid-19, numa altura em que os pedidos de ajuda alimentar aumentaram significativamente, a organização procura assim proporcionar mais “alguma alegria a estas crianças”.
A coordenar este núcleo há dois anos, Paula Matias adiantou que o que mais lhe tocou foi o facto de algumas das crianças serem contidas nos seus pedidos, havendo mesmo quem apenas peça “felicidade e saúde”. Trata-se “não só de proporcionar a alegria a estas crianças, mas também o conforto aos pais, porque na situação em que estão actualmente não podem, de forma alguma, dar essa alegria aos filhos e tentamos ajudar um bocadinho, para que tenham um Natal mais digno”, sublinhou.
Foi através de uma amiga que Catarina Anastácio e Luísa Cabrita, duas alunas do 12.º ano, souberam da iniciativa e decidiram ajudar contribuindo para um “Natal bom, com partilha, alimentos, prendas e feliz”, como apontou Luísa. “Nós não temos muito dinheiro, mas temos mais do que algumas pessoas e acho que podemos contribuir com um bocadinho do nosso para dar aos outros, aos que têm menos”, referiu Catarina.
Depois de escolhidas as cartas da árvore e lidos os pedidos, registaram-se os nomes e a família respectiva, ficando a saber que têm até dia 13 para trazer as respectivas prendas. Carina Ataíde é umas das pessoas apoiadas pela instituição e revelou à Lusa ser já o segundo Natal em que recebe o apoio. Conscientes das dificuldades, os seus dois filhos “já sabem que não é possível” haver prendas de Natal. “Eles não pedem... porque sabem que é difícil”, lamentou, emocionada.
A família ficou responsável pela elaboração de todos os envelopes de Natal, mas, ainda assim, a noção da realidade falou mais alto, já que, à pergunta sobre o que gostariam de receber no Natal, a resposta foi “amor, harmonia para o planeta e para casa, alegria e felicidade”. Apenas com insistência da mãe acabaram por realmente fazer os seus pedidos.
Assumindo que “é complicado” para uma mãe não poder responder aos pedidos dos filhos nesta época natalícia, Carina realçou que o apoio de comida que recebe lhe permite canalizar o dinheiro para as coisas pendentes que “ainda estão para pagar”.
Os pedidos recolhidos pela Refood vão de desejos de felicidade ou um cabaz de comida para a consoada a brinquedos com um carro telecomandado, uma guitarra, um computador ou um telemóvel em segunda mão.
Antony e Maxuel, dois irmãos cuja família recebe apoio alimentar, revelaram estar “ansiosos” com o Natal, mas a atenção centra-se na vinda do pai do Brasil, possibilitando à família estar toda junta na consoada.
Os dois jovens sentem mais falta de “não poder abraçar os amigos”, a que se soma a ausência de festas de Natal na escola, onde “todo o mundo comemora, se junta e canta”. “Vai ser um pouco complicado e difícil para a gente”, destacou Maxuel Duarte.
Nas suas cartas, o mais novo deixou o pedido de um skate e um carro telecomandado. Já o mais velho deseja um kit de robótica e um par de patins. Ambos acreditam que pelo menos um dos presentes será oferecido.