Covid-19: “congelada no tempo” e com as pistas vazias, discoteca alentejana resiste para reabrir portas
A discoteca Alexander’s, em Santiago do Cacém, prepara-se há meses para abrir as portas que estão fechadas desde Fevereiro. O espaço nocturno, inaugurado em 1984, já viveu dias gloriosos, mas os meses de confinamento que se arrastam no tempo representam um ano perdido.
A pandemia de covid-19 está a empurrar para o abismo as empresas de diversão nocturna, como é o caso da discoteca Alexander's, em Santiago do Cacém (Setúbal), que há nove meses resiste para voltar a abrir as portas.
Acostumado ao ritmo de outros tempos, o proprietário da discoteca, Alexandre Matos, dedica-se agora a limpar o espaço, que está fechado, para garantir a longevidade dos equipamentos que, um dia, voltarão “a animar a clientela”. “Em dias de eventos, chegava a fazer 20 quilómetros a percorrer todos os espaços. Agora, também faço questão de andar por aqui, mas o ritmo é mais lento”, desabafa.
Todos os dias, sem excepção, o empresário e a mulher passam horas na Quinta das Tílias, um espaço com mais de sete hectares, à entrada da cidade de Santiago do Cacém, onde ergueu o seu “império”. Além da discoteca, criou ainda um salão para casamentos e outros eventos e um alojamento local. “Pela minha saúde mental tenho de vir cá todos os dias porque é muita pressão. Tenho de esquecer, fazer frente e aguentar isto até que passe esta pandemia”, sublinha o empresário, que aos 21 anos se lançou nesta aventura.
O proprietário é o principal rosto de um espaço que apelida de “instituição da noite”, local incontornável de diversão, em funcionamento há 36 anos, mas que a pandemia de covid-19 veio “desligar da corrente”.
“Abrimos em Fevereiro, para o 36.º aniversário, e a partir daí foi tudo cancelado. Tínhamos as grandes festas do verão para fazer e até agora não fizemos mais nada, inclusivamente, na área dos eventos, tínhamos casamentos e bailes de finalistas com mais de 400 pessoas, mas foi tudo cancelado”, relata.
O alarme causado pelo SARS CoV-2, um vírus inicialmente desconhecido e com uma elevada taxa de mortalidade, levou a que, “logo no grande confinamento, houvesse um pânico geral e as pessoas optassem por cancelar os eventos e reagendar alguns para o próximo ano”.
"Um ano zero até agora"
O espaço nocturno, inaugurado em 1984, já viveu dias gloriosos, mas os meses de confinamento que se arrastam no tempo representam um ano perdido para a empresa que Alexandre criou e à qual dedicou toda a sua vida. Isto “representa um ano zero até agora”, explica o responsável que “tem uma estrutura [fixa] pequena”, embora as despesas fixas sejam de mais de três mil euros mensais.
“Como trabalhamos com muitos empregados, consoante o número de pessoas necessárias para os serviços, dá-nos uma certa vantagem, mas temos as despesas fixas que estamos a suportar há nove meses, sem qualquer receita”, refere o empresário que tem recorrido “a capitais próprios” para fazer face aos compromissos financeiros.
A discoteca está hoje “congelada no tempo” com as pistas vazias, o pó a acumular-se nos equipamentos de som, desligados há meses, e o silêncio a “ecoar” das grandes colunas que decoram o espaço. “O Alexander's é quase uma instituição da noite, toda a gente se conheceu aqui e tem uma história longa, destaca o proprietário que, até 2012, manteve a discoteca como negócio principal.
A quebra de clientes fez com a empresa se adaptasse e, a partir dessa altura, a discoteca “passou a ser um complemento de outros eventos” por se tratar de “um espaço que se pode utilizar para muita coisa, menos agora, porque a pandemia acertou em cheio em todas as nossas vertentes de negócio”, diz, com voz embargada.
O alojamento local ajudou a minimizar o impacto da pandemia, durante os meses de Verão, mas o mesmo não se pode dizer da passagem de ano, “um balão de oxigénio” para o sector que acabou “riscado” do calendário.
“Ainda a semana passada recebi telefonemas para saber se estava a pensar fazer a Passagem de Ano, mas estou a dizer às pessoas que não há condições para o fazer. Seria o balão de oxigénio para os primeiros meses do ano, mas está fora de questão e até lá não temos qualquer rendimento”, lamenta.
Da parte do Estado, “até agora não consegui qualquer ajuda”, indica o responsável, afirmando esperar “apoios a fundo perdido para a recuperação do negócio e um apoio à retoma para que as pessoas consigam voltar a abrir, ter crédito e minimizar os prejuízos”.
Apesar de apreensivo quanto ao futuro, o empresário recusa-se a cruzar os braços e promete ainda alguma luta para voltar a reabrir as portas às “noites saudáveis” da discoteca. “Não sei se voltarei a trabalhar como antigamente, mas tenho esperança de que irei fazer qualquer coisa para recuperar parte do negócio e sobreviver porque estamos desejosos de ver alegria e música nesta casa”, conclui.