Primeiro-ministro da Etiópia garante que não haverá guerra de guerrilha em Tigré
Abiy Ahmed reitera que a Frente de Libertação do Povo Tigré foi derrotada pelas forças federais, apesar dos relatos de que os combates continuam na região do Norte da Etiópia. Ajuda humanitária tarda a entrar em Tigré.
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, garantiu esta segunda-feira que as forças rebeldes não têm capacidade para levar a cabo uma guerra de guerrilha nas montanhas da região, contrariando os relatos de que os militantes da Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT) estão a resistir à ofensiva das tropas federais.
Num comunicado citado pela Reuters, Ahmed refere que o “risco de uma insurgência prolongada” nas montanhas de Tigré não é uma possibilidade, uma vez que “o grupo criminoso [FLPT] está totalmente derrotado”.
Os combates entre as tropas federais e os combatentes tigrés duram há mais de um mês, depois de o Governo etíope ter lançado uma enorme ofensiva no início de Novembro, culminando com a captura da capital Mek'ele no final do mês passado.
No entanto, os líderes tigrés garantem que os combates continuam em várias frentes nos arredores da capital de Tigré, uma tese que tem sido corroborada por residentes da região e pelas Nações Unidas, temendo-se que o conflito em curso possa resvalar para um cenário de guerrilha com consequências imprevisíveis para o Corno de África.
Uma vez que as comunicações na região estão cortadas, é difícil saber a situação real no terreno. No entanto, os cálculos apontam para centenas ou até milhares de mortos desde o início da ofensiva das tropas federais, existindo relatos de massacres de civis na cidade de Humera, no Sul de Tigré.
Os combates entre as tropas federais e FLPT também levaram a que milhares de pessoas abandonassem as suas casas - desde o início do conflito, pelo menos 50 mil pessoas fugiram para o Sudão, e as Nações Unidas estimam que haja mais de um milhão de deslocados.
O conflito em curso veio agravar ainda mais as tensões étnicas na Etiópia. Durante 28 anos, a FLPT esteve no poder a nível nacional. Com a chegada de Abiy Ahmed ao Governo, em 2018, os tigrés, uma das etnias minoritárias no país, acabaram afastados dos principais cargos de chefia, com o primeiro-ministro etíope a defender uma maior centralização do poder.
Ajuda humanitária em risco
Abiy Ahmed, de 44 anos, encarado como um jovem político reformista quando chegou ao poder, ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2019 pelo acordo histórico com a vizinha Eritreia.
No entanto, desde o início da ofensiva militar contra Tigré, a sua liderança tem sido alvo de críticas, não só internamente, mas também externamente, sobretudo devido à sua intransigência em negociar com a FLPT.
Além disso, Ahmed rejeita mediação internacional para o conflito – considerando-a como “interferência externa” - e tem dificultado a entrada de ajuda humanitária na região de Tigré.
Na semana passada, o Governo etíope e a ONU chegaram a um acordo para um acesso humanitário “desimpedido” a Tigré, onde vivem mais de cinco milhões de pessoas, muitas delas que já precisavam de ajuda para sobreviver antes do início do conflito.
No entanto, de acordo com o que disseram duas fontes sob anonimato à Reuters, a situação no terreno ainda é muito instável, com combates e pilhagens recorrentes, o que tem impedido a entrada de comboios com material médico ou alimentos, que escasseiam na região.
Uma equipa da ONU disse ainda à Reuters que, no domingo, os acessos a Shimelba, um dos quatro campos de refugiados eritreus na região de Tigré, foi negado e que foram disparados tiros, apesar de não terem sido dadas mais informações.
A ONU tem vindo a alertar para o agravamento da situação humanitária nos campos de refugiados eritreus no Norte da Etiópia, onde vivem mais de 100 mil pessoas em risco de fome e malnutrição. Muitos eritreus a viverem nestes campos, escreve o The Guardian, começaram a fugir para o Sudão, onde já estão mais de 50 mil etíopes que fugiram de Tigré devido ao conflito entre Governo federal e FLPT.