Papa Francisco doa 100 mil euros para apoiar deslocados de Cabo Delgado

Verba vai ser usada para construir dois postos de saúde. “Se a guerra terminasse hoje, íamos precisar ainda de vários anos para reconstruir” o tecido social da província, disse o bispo de Pemba, Luiz Lisboa.

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Posto móvel da ONU no Norte de Moçambique RICARDO FRANCO/Lusa

O Papa Francisco doou 100 mil euros para apoiar deslocados da violência em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, disse à Lusa o bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa. A verba que vai servir para erguer dois postos de saúde.

“Num gesto de caridade pastoral, o Papa Francisco ofereceu 100 mil euros para podermos aplicar no atendimento aos deslocados”, disse o bispo, explicando ser um gesto frequente do chefe da Igreja Católica perante situações complicadas em todo o mundo.

Segundo Luiz Fernando Lisboa, depois de terem sido feitas algumas conversas a nível local, concluiu-se que o donativo devia servir para construir “dois postos de saúde, um em Chiúre, o distrito mais populoso de Cabo Delgado, e outro em Montepuez”, no sudoeste da província, longe dos ataques dos rebeldes e um dos locais seguros que os deslocados em fuga tentam alcançar.

Após perderem tudo, sujeitos à fome e a longos dias de fuga no mato, os cuidados de saúde estão entre as principais necessidades das famílias que fogem do conflito - sendo metade dos deslocados crianças.

“Com certeza, como homenagem, vamos dar o nome de Papa Francisco” aos novos postos de saúde, disse Luiz Fernando Lisboa, explicando que já há desenho e orçamento para a a construção começar em breve. Dentro de dois a três meses as duas unidades deverão começar a atender deslocados.

O bispo de Pemba considera importante o apoio de figuras mobilizadoras como o Papa Francisco para que mais doações possam chegar a Cabo Delgado, onde persiste um défice de ajuda humanitária face à dimensão da crise.

“Se a guerra terminasse hoje, íamos precisar ainda de vários anos para reconstruir” o tecido social da província, sublinhou.

Francisco tem mostrado proximidade com o drama que se vive no Norte de Moçambique “desde há muitos meses” e mais explicitamente “no dia de Páscoa, quando falou da crise humanitária”.

Depois de o Papa começar a falar de Cabo Delgado “houve uma maior abertura por parte de muitos grupos, organizações e inclusive de vários países. Acredito que a figura dele, muito emblemática, forte, tenha dado essa ajuda para tornar esta crise não apenas nossa, de Cabo Delgado, mas uma crise em que o mundo todo tem de ser responsável”, considerou o bispo.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou em Novembro que teria de reduzir o apoio alimentar devido ao subfinanciamento da sua actividade. Luiz Fernando Lisboa destaca esse alerta como um sinal da necessidade de “intensificar a campanha” de apoio a Cabo Delgado, “no sentido de se conseguirem mais apoios”.

A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

A província onde avança o maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo jihadista Daesh.