HBO Max chega a Portugal em 2021, ano em que a Warner Bros pode mudar a economia das salas de cinema
Transição de HBO Portugal para HBO Max (com mais conteúdo e, em princípio, um preço de subscrição mais caro) é esperada para a segunda metade do ano. Entretanto, a Warner Bros, que faz parte do mesmo conglomerado que a plataforma de streaming, anunciou que todos os filmes que lançará em 2021 vão estrear-se em simultâneo nas salas de cinema e na HBO Max.
As plataformas de streaming da HBO na Europa, incluindo a HBO Portugal, “vão começar a evoluir para HBO Max na segunda metade de 2021”. A decisão foi tornada pública esta quinta-feira por Andy Forssell, director-geral do conglomerado WarnerMedia, no qual se incluem a Warner Bros e a HBO, durante um painel da Web Summit, que este ano está a decorrer num formato exclusivamente virtual.
A HBO Max só foi lançada no final de Maio nos Estados Unidos, mas o plano de expansão anunciado pelos seus responsáveis no primeiro semestre deste ano já dava conta de um interesse num crescimento relativamente célere. Ao que tudo indica, a América Latina será o primeiro mercado internacional a receber este serviço, que, na Web Summit, Forssell descreveu como “um novo produto”. “Vamos duplicar o conteúdo, terá muitas mais capacidades e, até ao fim do ano [de 2021], ambas as regiões [América Latina e Europa] serão muito mais activas. Mais para a frente será a Índia, mas o plano é fazermos essa actualização nos 190 países onde estamos”, disse.
Se esta transição de HBO Portugal para HBO Max — cujo lançamento em plena pandemia não foi o sucesso inicialmente perspectivado, pelo que ainda está atrás da Netflix e da Disney+ nas “guerras do streaming” — colocará um manancial de conteúdo ainda maior nas mãos dos espectadores (é uma biblioteca com cerca de dez mil horas de programação, segundo as contas da WarnerMedia), o preço de subscrição também deverá subir. Nos Estados Unidos, a HBO Max custa 14,99 dólares (pouco mais de 12 euros) por mês, enquanto a assinatura da HBO Portugal é consideravelmente mais acessível (4,99 euros mensais). Também a Amazon Prime Video (5,99 euros/mês), a Disney+ (6,99 euros/mês) e a Netflix (7,99 euros/mês) são serviços mais baratos.
Warner Bros híbrida em 2021
A notícia do dia no campo do entretenimento nem foi a desta expansão, no entanto. Também esta quinta-feira, numa decisão sem precedentes que pode ou não ter efeitos completamente transfiguradores para o sector, a Warner Bros anunciou que todos os filmes que lançará em 2021 (esperam-se 17, em princípio) vão estrear-se simultaneamente em salas de cinema e na HBO Max. Isto mostra que, ao contrário do que inicialmente alguns agentes da área assumiram, a opção da produtora e distribuidora de, pelo menos nos Estados Unidos, estrear Mulher Maravilha 1984 nas salas comerciais e na HBO Max ao mesmo tempo não será um evento isolado (em Portugal, a obra desta super-heroína da DC Comics estará em exclusivo nos cinemas a partir do dia 23 de Dezembro).
Entre os filmes que a Warner Bros conta estrear em 2021, contam-se: The Matrix 4 (a última longa-metragem da saga com Keanu Reeves, The Matrix Revolutions, saiu em Novembro de 2003); The Many Saints of Newark, que funcionará como uma prequela da série Os Sopranos; The Suicide Squad, que juntará Margot Robbie, Idris Elba, John Cena, Viola Davis, Peter Capaldi e Sylvester Stallone numa sequela standalone de Esquadrão Suicida (2016); Dune, uma adaptação do livro de ficção científica homónimo escrito por Frank Herbert em 1965 que terá o jovem Timothée Chalamet num dos papéis principais; Space Jam: A New Legacy, que, desta feita, terá LeBron James em vez de Michael Jordan a contracenar com os Looney Tunes; ou Elvis, futuro biopic de Elvis Presley.
Mortal Kombat, The Little Things, Tom and Jerry (filme que pegará nos clássicos personagens de William Hanna e Joseph Barbera misturando live-action e animação; Chloë Grace Moretz será uma das protagonistas), Reminiscence, Godzilla vs. Kong, The Conjuring: The Devil Made Me Do It, In the Heights, King Richard, Judas and the Black Messiah, Malignant e Those Who Wish Me Dead são os restantes títulos que a produtora quer lançar para o ano, sendo que os últimos três ainda não têm data de estreia definida.
Salas temem golpe severo
Em comunicado, a Warner Bros explica que este “modelo híbrido” de estreia e exibição dos seus filmes “foi criado como uma resposta estratégica ao impacto da pandemia”, que este ano colocou em xeque a vida das salas de cinema comerciais e deixou desertas as que, mesmo com várias estreias de blockbusters adiadas, continuam esperançosamente abertas. Ann Sarnoff, CEO da WarnerMedia, insiste que este será “um plano único de um ano”, salientando que, para já, não há intenções de que seja reproduzido em 2022. “Estamos a atravessar tempos sem precedentes que exigem soluções criativas. Ninguém quer que os filmes regressem ao grande ecrã mais do que nós. Sabemos que conteúdo novo é o sustento das salas, mas temos de equilibrar isso com a realidade de que a maior parte das salas nos Estados Unidos provavelmente operará a uma capacidade reduzida em 2021”, sublinha a responsável.
A revista Variety adianta que, conforme também acontecerá com Mulher Maravilha 1984, os filmes estarão disponíveis na HBO Max durante 31 dias. Ultrapassada essa marca, os títulos sairão do catálogo, passando a sua exibição a estar restrita às salas de cinema. Ainda não se sabe se ou quando as longas-metragens regressarão à plataforma de streaming. Depois de um primeiro semestre algo desapontante no mercado, a WarnerMedia espera que esta estratégia dê força à HBO Max e atraia novos subscritores, talvez ainda desinteressados num reencontro com as salas de cinema tradicionais.
A Warner Bros sabe, de resto, o que é tentar investir durante uma pandemia — e pagar o preço. Tenet, filme de Christopher Nolan orçado em 200 milhões de dólares que, no Verão, recebeu a ingrata tarefa de tentar “resgatar o cinema” e devolver os espectadores às salas tradicionais, já rendeu pouco mais de 357 milhões de dólares nas bilheteiras desde a estreia mundial no fim de Agosto, mas apenas 16% dessa receita (ou seja, pouco mais de 57 milhões de dólares) veio do mercado norte-americano. Um valor que, não podendo ser lido sem o actual contexto, não deixa de ser magro para uma longa-metragem a que já tentaram colar o rótulo de “box office flop”.
A cadeia de cinemas AMC, uma das maiores nos Estados Unidos, já veio criticar publicamente a decisão da WarnerMedia, através de um comunicado enviado pelo CEO Adam Aron à revista The Hollywood Reporter. “Claramente, a WarnerMedia está disposta a sacrificar uma porção considerável dos lucros do seu estúdio — e, paralelamente, dos parceiros que tem nas áreas da produção e distribuição — para subsidiar a sua startup, a HBO Max”, critica Aron, que diz não entender por que motivo o conglomerado adoptará esta estratégia durante todo o ano de 2021 quando, “com a vacina ao virar da esquina, espera-se que o negócio das salas de cinema comece a recuperar”. Parte do sector teme que esta possa ser uma machadada decisiva para as salas, que, se levaram um primeiro grande golpe com a força aglutinadora do streaming, ficaram ligadas às máquinas com a covid-19.