Reuniões no Natal? Se uma família isolada pode ser um risco pequeno, todas as famílias representarão um boom de infecções

Epidemiologista Henrique Barros assinalou, na reunião entre especialistas e políticos no Infarmed, que dois em cada mil portugueses podem infectar outra pessoa, mesmo que não saibam que o estão a fazer. O risco de infecção aumenta durante uma refeição, quando não há uso de máscara e o distanciamento é menor.

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Dois em cada 1000 portugueses podem infectar outra pessoa Reuters/FABRIZIO BENSCH

O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Henrique Barros, avisou esta quinta-feira que é importante fazer a população perceber que, apesar de em cada família o risco de contágio ser pequeno, esse cenário "multiplicado por milhares de reuniões dessa natureza, com este pequeno risco, corresponderá à ocorrência de muitas infecções” durante o Natal.

O epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto olhou para as probabilidades de contágio de cada português durante a reunião entre especialistas e políticos no Infarmed, em Lisboa, e assinalou que dois em cada 1000 portugueses (escolhidos aleatoriamente) podem infectar outra pessoa, mesmo sem saber que estão a fazê-lo. Esse nível de risco aumenta numa refeição, quando a distância é menor e a máscara não está colocada.

Deste modo, justifica Henrique Barros, “se em cada família o risco é pequeno, isso multiplicado por milhares de reuniões desta natureza e desta dimensão corresponderá à ocorrência de muitas infecções”.

O especialista falou também, numa intervenção por videoconferência, sobre a incerteza na gestão da infecção e da imunidade e começa com uma estimativa: cerca de um milhão de pessoas já deverá ter tido contacto com o vírus (ainda que com uma margem de incerteza que vai dos 605 mil aos 1,8 milhões de pessoas, ressalva).

Henrique Barros recuperou dados sobre casos diagnosticados e doentes que efectivamente tiveram covid-19 para dar conta da relação de probabilidades de contrair a infecção. Com base nesses dados, o especialista estima que entre “15% a 20% da população já terá tido contacto com o vírus”, e ainda que isso possa significar que esteja imunizada, não se sabe ainda a eficácia e dimensão dessa protecção, alertou.

Outro aspecto mencionado na reunião foi a necessidade de reduzir ao máximo o número de contágios, para que haja menos indivíduos infecciosos que possam propagar a covid-19 na altura do Natal e passagem de ano. “Um dos factores que mais promovem a infecção é a presença de indivíduos infecciosos na população”, afirmou o epidemiologista Baltazar Nunes, em resposta à pergunta do Presidente da República sobre as medidas que devem ser tomadas na época festiva.

Quanto menos indivíduos infecciosos, menor será o contágio na altura do reencontro das famílias, ressalva o epidemiologista. Tentar reduzir ao máximo a incidência até ao período das festas é crucial. Antes do Natal, é importante que as pessoas tentem reduzir ainda mais os contactos com pessoas fora do seu agregado familiar. É preciso também analisar se a população estará disponível para adoptar e aceitar restrições de mobilidade entre concelhos durante os períodos festivos.

As intervenções dos especialistas durante a reunião do Infarmed desta quinta-feira vão ao encontro das declarações do primeiro-ministro, António Costa, que reconheceu na terça-feira que a semana que decorre “é decisiva” para saber como o país vai estar nos próximos dias. O chefe do Governo disse então que as medidas para o Natal e Ano Novo vão ser conhecidas no sábado.

“O Governo propôs ao Presidente da República e o Presidente da República aceitou que, desta vez, quando for anunciada a renovação do estado de emergência sejam divulgadas as medidas até 6/7 de Janeiro”, anunciou o chefe do Governo. “É preciso que as pessoas tenham uma noção do que pode ser o Natal.”

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