Irão admite cumprir acordo nuclear caso Estados Unidos retirem as sanções

Chefe da diplomacia iraniana pede actos de “boa-fé” a Washington e espera que Joe Biden levante as sanções a Teerão. Conselho dos Guardiões aprovou proposta que permite ao Irão aumentar a produção de urânio caso as sanções norte-americanas não sejam retiradas até Fevereiro de 2021.

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Mohammad Javad Zarif, ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão Evgenia Novozhenina/Reuters

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, afirmou esta quinta-feira que o Irão está disposto a cumprir o acordo nuclear estabelecido em 2015, desde que os Estados Unidos cumpram a sua parte e levantem as sanções impostas a Teerão.

“Os Estados Unidos devem implementar, sem quaisquer pré-condições, as suas obrigações à luz do Plano Abrangente de Acção Conjunta [JCPOA, na sigla em inglês]. Têm de demonstrar boa-fé, e então o Irão voltará a cumprir o JCPOA em conformidade”, afirmou Zarif, citado pelo The Guardian, numa declaração que parece ter como destinatário o Presidente eleito dos EUA, Joe Biden, que toma posse a 20 de Janeiro e já demonstrou vontade de voltar à mesa das negociações com o Irão.

O acordo nuclear, conhecido como JCPOA, foi assinado em 2015, pelo grupo 5+1 (EUA, Reino Unido, França, China e Rússia, mais Alemanha). Donald Trump, no entanto, abandonou o acordo unilateralmente em 2018, aprofundando a tensão entre Teerão e Washington durante o seu mandato na Casa Branca. 

Na sua intervenção, o chefe da diplomacia iraniana deixou ainda críticas à União Europeia, acusando Bruxelas de também não estar a cumprir com o acordo de 2015.

“Os europeus dizem que estão a cumprir totalmente o acordo, mas não estão. Não vemos nenhuma empresa europeia no Irão, não vemos nenhum país europeu a comprar petróleo ao Irão e não vemos nenhum banco europeu a nos enviar dinheiro”, acusou Zarif.

As declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano surgem um dia depois de o Conselho de Guardiões – um órgão que tem como objectivo garantir que as leis que saem do Parlamento iraniano cumprem a lei islâmica – ter aprovado uma lei que pretende que o país volte a enriquecer urânio e impeça as inspecções dos agentes das Nações Unidas.

A legislação determina que, caso as sanções norte-americanas não sejam levantadas até Fevereiro, o Irão pode aumentar para 20% a sua produção de urânio, um valor bem superior aos 3,67% definidos à luz do acordo nuclear de 2015, segundo a BBC.

Esta medida de Teerão surge dias depois da morte de Mohsen Fakhrizadeh, apontado por Israel e pelos Estados Unidos como o responsável por um programa nuclear secreto, que teria como objectivo o desenvolvimento de uma bomba nuclear, sendo por isso apontada como uma retaliação por parte de Teerão, que culpam Israel, com a conivência dos Estados Unidos, pela morte do cientista. 

O aumento do enriquecimento de urânio e o fim das inspecções nucleares, desejadas pela ala mais conservadora, em maioria no Parlamento, não foi bem recebido pelo Governo iraniano, e tanto o ministro dos Negócios Estrangeiros como o Presidente do Irão manifestaram as suas reservas.

O Presidente Hassan Rouhani disse que a decisão do Conselho dos Guardiões é “prejudicial para a diplomacia”, enquanto Mohammad Javad Zarif sublinhou que apesar de legislação “não ser reversível”, ainda pode ser retirada, caso as sanções norte-americanas sejam levantadas nos próximos dois meses.

Enquanto Joe Biden não toma posse, a Administração Trump continua a aumentar a pressão sobre Teerão, e esta quinta-feira o Departamento do Tesouro norte-americano aprovou novas sanções contra o Irão.

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