Hong Kong: Joshua Wong e outros dois membros do movimento pró-democracia condenados a penas de prisão
Antigo líder do Demosisto foi condenado a 13 meses e meio de prisão. Ivan Lam e Agnes Chow sentenciados a sete e dez meses de prisão, respectivamente.
Joshua Wong e outros dois conhecidos membros do movimento pró-democracia de Hong Kong foram condenados esta quarta-feira a penas de prisão por participarem numa manifestação ilegal contra o governo local em Junho de 2019.
Wong, de 24 anos, foi condenado a 13 meses e meio de prisão, tendo sido apontando pela acusação como o principal responsável pela organização do protesto do ano passado, em que milhares de pessoas se manifestaram à porta da sede da polícia.
Ivan Lam, de 26 anos, e Agnes Chow, de 23, foram condenados, respectivamente, a sete e a dez meses de prisão pela sua participação na mesma manifestação.
“Os réus incentivaram os manifestantes a sitiarem a sede [da polícia] e gritaram palavras de ordem que põem em causa a força policial”, disse a juíza Wong Sze-lai, citada pela AFP. “A detenção imediata é a opção mais apropriada”, declarou.
Durante a leitura da sentença, cerca de 100 manifestantes pró-democracia juntaram-se à entrada do tribunal para apoiar os que estavam lá dentro. Alguns manifestantes pró-China fizeram uma contramanifestação, a exigir sentenças mais pesadas.
“Sei que os próximos dias vão ser difíceis, mas vamos aguentar firme”, gritou Joshua Wong no tribunal, relata a Reuters. Numa carta publicada pelos seus advogados nas redes sociais, Joshua Wong garantiu que a sua prisão “não é o fim da luta”.
“À nossa frente está outro campo de batalha desafiante. Agora vamo-nos juntar à batalha na prisão com outros manifestantes corajosos, menos visíveis, mas essenciais na luta pela liberdade e democracia em Hong Kong”, afirmou Wong.
Tal como Ivan Lam e Agnes Chow, Joshua Wong declarou-se culpado das acusações e aguardou a leitura da sentença durante uma semana na prisão, onde esteve em regime de solitária, com luzes ligadas 24 horas por dia, durante três dias, depois de ter sido detectada uma “sombra” no seu estômago.
O político de 24 anos está ainda acusado de participar numa manifestação ilegal em Outubro de 2019 e em Junho deste ano, quando esteve presente numa vigília em homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen em 1989.
Ao contrário de Wong e Lam, que já tinham sido condenados a penas de prisão noutras ocasiões, Agnes Chow nunca esteve presa e, assim que foi lida a sua sentença, chorou.
Agnes Chow pode enfrentar uma acusação de sedição, depois de ter sido detida e libertada sob caução em Agosto deste ano, acusada de violar a lei de segurança nacional. Até ao momento, a acusação ainda não foi formalizada, mas a legislação imposta por Pequim à região administrativa admite prisão perpétua para o crime de sedição.
"Violação de direitos"
A condenação dos três activistas pró-democracia foi de imediato repudiada a nível internacional. A Amnistia Internacional disse que, ao visar os principais rostos do movimento, as autoridades de Hong Kong estão a a “enviar um aviso a quem se atrever a criticar abertamente o Governo”.
“Estes três activistas foram presos numa violação dos seus direitos de liberdade de expressão e manifestação pacífica”, afirmou Yamini Mishra, directora da Amnistia para a região Ásia-Pacífico. “As suas sentenças devem ser anuladas sem demora e eles devem ser libertados imediata e incondicionalmente”, reiterou.
O Reino Unido, que tem sido um dos países mais críticos em relação à China e ao executivo regional de Carrie Lam, apelou ao fim da perseguição aos activistas pró-democracia.
“Enquanto três activistas de Hong Kong começam a cumprir as suas sentenças, exorto as autoridades de Hong Kong e de que Pequim para que acabem com a campanha para sufocar a oposição”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, sublinhando que as acusações devem ser “justas e imparciais”.
“Os direitos e liberdades em Hong Kong devem ser garantidos”, acrescentou.
A prisão dos três activistas, envolvidos há vários anos no movimento pró-democracia na região, surge na sequência de uma vaga de detenções de membros da oposição em Hong Kong.
Parlamento sem oposição
Acresce que, em Junho, a China impôs uma lei de segurança nacional na região que os críticos vêem como uma tentativa de silenciar qualquer voz dissidente. A legislação criminaliza o que Pequim considera actos de secessão, subversão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiros, prevendo sentenças que podem ir até prisão perpétua.
Com a entrada em vigor da lei – que já levou a pelo menos 30 detenções –, Joshua Wong cessou a actividades do partido Demosisto, que fundou com Agnes Chow. Os dois activistas foram também impedidos de concorrer às eleições legislativas na região administrativa, que acabariam por ser adiadas devido à pandemia de covid-19.
Recentemente, o Governo de Hong Kong retirou o mandato a vários deputados do campo pró-democracia, na sequência de uma lei imposta pela China que dá poderes ao executivo regional para expulsar deputados considerados uma ameaça à segurança nacional.
Em resposta, os deputados pró-democracia demitiram-se em bloco, deixando o parlamento local sem qualquer membro da oposição a Pequim, a primeira vez que tal acontece desde que o Reino Unido devolveu a soberania de Hong Kong à China em 1997.