Tropel de emoções

A trágica realidade dos refugiados exemplarmente alegorizada num dos melhores livros de Manuel Jorge Marmelo.

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O tom de Tropel não é alheio às modelares narrativas de Buzzati (O Deserto dos Tártaros) e Camus (O Estrangeiro) enric vives-rubio/arquivo

A tragédia em curso dos refugiados que tentam alcançar a Europa foi tematizada na melhor obra de arte literária que se terá publicado em Portugal em 2018 — Um Bailarino na Batalha, de Hélia Correia (ed. Relógio D’Água). Tropel, o novo romance breve, ou novela, de Manuel Jorge Marmelo (n. 1971) aborda o mesmo assunto e, por meios inteiramente diversos, consegue ser igualmente notável. No livro de Hélia Correia havia (e há, felizmente) uma voz impessoal e solene e a metáfora fértil do deserto, cuja travessia intentam as personagens em busca de uma equívoca terra prometida, o foco da narrativa estando colocado do lado destas. Na novela de Marmelo — na qual a trágica realidade dos refugiados às portas da Europa é exemplarmente alegorizada — há a voz pessoal, crédula e parcial do narrador e protagonista, e a imagem não menos fecunda da floresta (a outra metáfora estruturante da narrativa sendo a da caça), seguindo a narração o ponto de vista daqueles que, na periferia oriental do nosso continente, procuram deter o tropel dos refugiados.

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