Eduardo Lourenço, desertor da ortodoxia?

O pensamento de Eduardo Lourenço construiu-se a partir da recusa de duas ortodoxias: o catolicismo no qual assentava ideologicamente o Estado Novo e o marxismo. Mas a sua heterodoxia não foi isenta de ambiguidades nem de luta, sobretudo na relação com a religião.

O termo heterodoxia é insusceptível de ser compreendido sem o seu antónimo ortodoxia. Não espanta, por isso, que nas inúmeras explicitações que Eduardo Lourenço fez do primeiro conceito (escolhido, como se sabe, para título de vários dos seus livros) se fale muitas vezes mais daquilo que se recusa – a ortodoxia – do que daquilo que se afirma. No prefácio ao segundo volume de Heterodoxia, lançado em plena ressaca do Concílio Vaticano II, Eduardo Lourenço pretende demarcar-se com uma maior clareza do que fizera anteriormente de duas ortodoxias. Por um lado, o catolicismo, ou melhor, a versão deste na qual assentava a ideologia do Estado Novo, e, por outro, o marxismo. No entanto, o seu discurso não se torna, por assim dizer, anticlerical, facto que possibilita que leitores tão diversos como António Quadros ou Óscar Lopes falem da heterodoxia lourenciana como prefigurando um determinado tipo de catolicismo.

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