Chefe do programa nuclear iraniano foi assassinado
Ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão aponta o dedo a Israel, que permance em silêncio. Mohsen Fakhizadeh é referido por EUA e Israel como o responsável pelo programa que Teerão nega existir.
O cientista Mohsen Fakhrizadeh, apontado como o director de um programa nuclear iraniano secreto, foi assassinado esta sexta-feira, num ataque que ainda não foi reivindicado, mas que promete agravar ainda mais a relação do Irão com os Estados Unidos e Israel.
As autoridades iranianas confirmaram a morte do “mártir” Mohsen Fakhrizadeh e prometeram retaliar contra os responsáveis. O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, apontou o dedo a Israel, que permanece em silêncio, assim como o Pentágono.
“Os terroristas assassinaram hoje um proeminente cientista iraniano. Esta cobardia – com sérios indícios do envolvimento de Israel – mostra o belicismo desesperado dos seus autores”, acusou Zarif na rede social Twitter, apelando à comunidade internacional, “e especialmente à União Europeia”, para “pôr fim às suas posições ambivalentes vergonhosas e condenar este acto de terrorismo de Estado”.
De acordo com as autoridades iranianas, Mohsen Fakhrizadeh foi assassinado numa emboscada em Absard, a 70 quilómetros de Teerão, quando quatro pessoas dispararam contra o carro onde este seguia juntamente com o seu guarda-costas. O cientista ainda foi transportado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos, enquanto o guarda-costas ficou ferido.
“Lembrem-se deste nome: Fakhrizadeh ”
Fakhrizadeh era professor de Física numa universidade em Teerão e integrava a Guarda Revolucionária iraniana. Durante mais de duas décadas, escreve o The New York Times, foi considerado o principal responsável pelo tentativa de Teerão desenvolver uma arma nuclear, um projecto que a República Islâmica abandonou em parte no início dos anos 2000.
A associação de Fakhrizadeh a um suposto programa nuclear iraniano, no entanto, continuou, e o cientista chegou mesmo a ser alvo de sanções por parte dos Estados Unidos em 2008. Além disso, segundo o mesmo jornal norte-americano, era apontado como um dos principais alvos da Mossad (serviços secretos israelitas), que no passado foi associada ao assassínio de vários cientistas iranianos.
Em 2018, quando o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou através da televisão o Governo iraniano de mentir sobre o seu programa nuclear, Fakhrizadeh voltou a ser referido como o chefe de um programa secreto para o desenvolvimento de uma arma nuclear. “Lembrem-se deste nome: Fakhrizadeh”, disse, na altura, Netanyahu, garantindo estar na posse de documentos que comprovam as ambições nucleares iranianas.
O Governo israelita, para já, mantém-se em silêncio, mas no Irão poucas são as dúvidas de que o Estado hebraico está por trás do assassínio, com figuras importantes do regime a prometerem vingança.
“Nos últimos dias de vida política do seu principal aliado [Donald Trump], os sionistas [Israel] procuram intensificar a pressão sobre Irão e criar uma guerra total”, acusou Hossein Dehgan, conselheiro militar do ayatollah Ali Khamenei e apontado como possível candidato às eleições presidenciais de 2021.
“Vamos atacar como um relâmpago os assassínios deste mártir oprimido e faremos com que se arrependam das suas acções”, acrescentou Dehgan.
Problemas para Joe Biden
Independentemente do responsável pela morte de Mohsen Fakhrizadeh, é expectável que as relações do Irão com Estados Unidos e Israel se agravem ainda mais, quando faltam menos de dois meses para Donald Trump deixar a Casa Branca.
No Irão, espera-se que Israel e Arábia Saudita, principais rivais do país na região, aproveitem as últimas semanas da Administração Trump para enfraquecer a República Islâmica, dificultando as pretensões de Joe Biden de se aproximar de Teerão quando assumir a presidência.
O Presidente eleito já demonstrou disponibilidade para dialogar com as autoridades iranianas, admitindo o levantamento de algumas sanções e até o retomar do acordo nuclear, assinado em 2015 pelo grupo 5+1 (EUA, Reino Unido, França, China e Rússia, mais Alemanha) e do qual Donald Trump retirou os EUA três anos depois.
Estas pretensões, no entanto, podem esbarrar no aumento da tensão entre Washington e Teerão, numa altura em que decorre uma conturbada transição de poder nos Estados Unidos, agravada pelas entradas e saídas no Pentágono – o secretário da Defesa, Mark Esper, foi despedido há duas semanas -, o que faz aumentar a incerteza quanto ao que Trump ainda pode fazer nas últimas semanas na presidência.
O Presidente cessante, conforme noticiou o The New York Times, chegou mesmo a admitir um ataque militar contra o Irão após as eleições presidenciais, mas foi dissuadido pelos seus conselheiros, que alertaram para a possibilidade de um conflito a grande escala, com consequências imprevisíveis.