As preciosas assombrações de Rita Braga

Time Warp Blues usa ukulele, caixa de ritmos e sintetizador para criar música em que o tempo se distorce e a realidade é transformada com humor e doses certas de surrealismo. Uma estranha e cativante preciosidade.

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Sara Rafael

Começa com uma linha de órgão fantasmagórica, e o som e a melodia são muito adequados, ou não se chamasse a canção Tremble like a ghost. O fantasma em questão, assinale-se, não assusta verdadeiramente. Provoca aquela reacção que vemos na película a preto e branco do cinema mudo: colocamos as mãos no rosto e abrimos a boca de espanto com todo o dramatismo que pede a fantasia em ecrã. Depois, quando à linha de órgão se junta um violino assombrado trazido pelo vento Leste, uma caixa de ritmo analógica e um ukulele dedilhado com precisão, surge a voz do fantasma em questão e não temos hipótese. Seguimos com ele: estamos sobre os destroços do colapsado Pickwick Club, em 1925; com Marlene Dietrich, em 1944, a oferecer uma serenata aos soldados; rimo-nos a ver um furibundo Pete Seeger armado de machado no Newport Folk Festival de 1965; e somos conduzidos até aqui onde estamos, hoje: “Where have you been since 1984, an age we are still living in?”, pergunta Rita Braga, voz encantatória, nesse extraordinário pedaço de canção chamado Tremble like a ghost.

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