Teresa Aica Bairos vence prémio Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura para tradução
Obra traduzida foi Sartor Resartus, do escocês Thomas Carlyle, “um extenso comentário a um ensaio (inexistente) de um filósofo alemão (imaginário)”. O júri escolheu-a por unanimidade.
Teresa Aica Bairos venceu o Prémio Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura 2020 pela tradução para língua portuguesa da obra Sartor Resartus - Vida e Opiniões de Herr Teufelsdröckh (1836), do escocês Thomas Carlyle (1795-1881), foi hoje anunciado.
Na fundamentação do júri para esta escolha esteve a tradução “escrupulosa e fluente, muito anotada e muito legível” de Teresa Aica Bairos, que mereceu o voto unânime por parte de todos os seus elementos: o escritor e crítico Pedro Mexia, que presidiu, o poeta e editor Jorge Reis-Sá e a professora universitária Joana Matos Frias.
“Apresentando-se como um extenso comentário a um ensaio (inexistente) de um filósofo alemão (imaginário), Sartor Resartus é uma paródia ao idealismo filosófico que cruza, ao jeito do Tristram Shandy, de Laurence Sterne, investigações biográficas, citações verdadeiras e inventadas, peripécias e nomenclaturas facetas, o cepticismo inglês e a sofisticação continental, bem como as ideias e as provocações de Carlyle. Deste inglês nascido na Escócia, historiador, filósofo e polemista, só havia edição portuguesa do ensaio Os Heróis”, acrescenta o júri, num comunicado divulgado pelos promotores do prémio.
Na edição deste ano, o júri decidiu ainda atribuir uma menção honrosa a Miguel Mochila, pela tradução para a língua portuguesa de Canto Errante, do poeta nicaraguense Rubén Darío (1867-1916), considerado um dos mestres maiores do modernismo em língua espanhola.
A propósito do trabalho apresentado por Miguel Mochila ao concurso, o júri destacou “as qualidades de uma tradução que soube adaptar-se aos virtuosismos autorais de Darío, transitando com assinalável destreza entre os sistemas estróficos e versificatórios mais convencionais e os experimentalismos mais vanguardistas, sempre fiel à variedade dos princípios rítmicos e vocabulares dos textos originais: fiel, em suma, ao ímpeto renovador tão característico do inesquecível criador de “Azul”...”
O Prémio IN/Vasco Graça Moura foi instituído em 2015 pela Imprensa Nacional e tem uma periodicidade anual, distinguindo, rotativamente, trabalhos inéditos nas áreas em que Vasco Graça Moura mais se destacou: Poesia, Ensaio e Tradução.
A edição deste ano foi dedicada à tradução de obras de autores em domínio público. O trabalho de Teresa Aica Bairos foi seleccionado entre 19 candidaturas.
Teresa Aica Bairos nasceu em Coimbra, em 1975. É tradutora nas instituições europeias em Bruxelas desde 2009. Licenciou-se em Estudos Ingleses e Alemães, pela Universidade de Coimbra, tendo estudado também na Alemanha e na Irlanda.
Trabalhou ainda como leitora de Português, em Itália, e como tradutora independente, em Lisboa. Em Outubro de 2019, defendeu uma tese de doutoramento no Programa Teoria da Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no âmbito da qual realizou a tradução da obra a concurso, Sartor Resartus, de Thomas Carlyle.
Miguel Mochila nasceu em Évora, em 1988. É poeta e professor na Universidade de Porto Rico, ao abrigo de um protocolo com o Instituto Camões.
Tem desenvolvido trabalho de investigação no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa, estudando em particular as relações entre as literaturas ibéricas e ibero-americanas. Traduziu, entre outros, autores como Roberto Arlt, Julio Cortázar, Adolfo Bioy Casares, Ernesto Sabato, Samanta Schweblin, Javier Marías, Luis Landero, Nicanor Parra, Ángel González, Claudio Rodríguez e Joan Margarit.
Além dos cinco mil euros do valor pecuniário do prémio, Teresa Aica Bairos, que concorreu com o pseudónimo Diogo Alfaiate, deverá ver, já no próximo ano, a publicação do seu trabalho pela editora pública portuguesa. A tradução de Miguel Mochila também deverá conhecer a publicação em 2021, na colecção Plural da Imprensa Nacional.
Em edições anteriores, o Prémio IN/Vasco Graça Moura distinguiu, na Poesia, José Gardeazabal (vencedor 2015), Alexandre Sarrazola (menção honrosa 2015) e José Luiz Tavares (vencedor 2018); no Ensaio, Frederico Pedreira (vencedor 2016), Joaquim Arena (menção honrosa 2016) e João Paulo Sousa (vencedor 2019); e, na tradução, João Pedro Ferrão (vencedor 2017) e Ana Filipa Santos (menção honrosa 2017).