O Discípulo, do indiano Chaitanya Tamhane, conquista o prémio principal do LEFFEST 2020
Filme já fora uma das revelações da última edição do Festival de Veneza e traz um jovem cineasta a lidar com questões “eternas” do cinema indiano “off-Bollywood”.
Era um dos filmes mais interessantes e surpreendentes da secção competitiva: O Discípulo, filme indiano (marati) de Chaitanya Tamhane, foi o preferido do júri composto por Peter Handke, Frédéric Bonnaud, Cecilia Bengolea, Gabriel Abrantes e Neville Wakefield, e ganhou o principal prémio da edição 2020 do Lisbon & Estoril Film Festival.
O Discípulo já fora uma das revelações da última edição do Festival de Veneza (onde ganhou o prémio de melhor argumento e o prémio FIPRESCI), e traz um jovem cineasta (Tamhane nasceu em 1987) a lidar com questões “eternas” do cinema indiano “off-Bollywood”, nomeadamente o tema das heranças culturais (o protagonista é um cantor tradicional) e a sua articulação com a modernidade. Há um rigor na construção dramatúrgica, no desenho individual das personagens, que reflecte exemplarmente um trajecto e um dilema mais colectivo — como acontecia, por exemplo, nos filmes de Satyajit Ray (ainda que Tamhane venha de outra região da Índia). Ao mesmo tempo, traduz uma ideia de “cinema musical” que está para além do musical como género e como folclore standardizado.
Foi também atribuído o Grande Prémio João Bénard da Costa ao filme The Best is Yet to Come, do chinês Jing Wang (ex-assistente de Jia Zhangke), que aborda a questão da liberdade da China contemporânea (com uma história ambientada noutro ambiente pandémico, a crise do SARS em 2003); e um prémio especial do júri, atribuído ex-aequo a dois actores: Franz Rogowski, intérprete do Undine de Christian Petzold, e Blanche Gardin, actriz de Apaga o Histórico de Benoit Délépine e Gustave Kervern.