5G: “É evidente” que a Nos vai participar no leilão, mas vai “reduzir o investimento”
“Vamos reduzir a estrutura de custos, a partir do momento em que vimos a nossa propriedade ser expropriada, na qual andámos a investir anos e anos”, destacou o presidente da empresa, Miguel Almeida.
O presidente executivo da Nos, Miguel Almeida, afirmou em entrevista à Lusa ser “evidente” que vai participar no leilão de 5G, mas também garantiu que vai “reduzir o investimento” e a estrutura de custos.
Miguel Almeida falou à Lusa numa altura em que decorre o prazo para as candidaturas do leilão de quinta geração (5G), cujo regulamento elaborado pelo regulador Anacom tem sido amplamente criticado pelos três operadores históricos de telecomunicações em Portugal.
“É evidente que nós vamos participar no leilão, vamos qualificar, vamos inscrever, vamos participar”, mas “também dou outra garantia: é evidente que vamos reduzir o investimento”, asseverou o gestor, que está no sector das telecomunicações há duas décadas.
“Vamos reduzir a estrutura de custos, a partir do momento em que vimos a nossa propriedade ser expropriada, na qual andámos a investir anos e anos, ninguém estará à espera que nós consigamos funcionar com o mesmo tipo de estrutura de custos que temos hoje”, prosseguiu Miguel Almeida.
“Já estamos a pensar como é que já em 2021 vamos começar a limpar. Não é possível, não é sustentável”, salientou o presidente executivo da Nos [que faz parte do grupo Sonae, dono do PÚBLICO]. Sobre as obrigações de cobertura previstas no leilão, Miguel Almeida disse que serão cumpridas. “Essas vamos fazer, mas deixe-me ser muito claro: não vamos fazer mais nenhumas, vamos jogar para os mínimos olímpicos”, reforçou.
Miguel Almeida não se comprometeu com a quantidade de espectro, nem quanto ao investimento. “Não sabemos qual a dimensão do investimento que vamos fazer (...), não sei que espectro vamos adquirir”, disse. “Mas, seguramente do ponto de vista do investimento vamos cumprir com aquilo que nos for imposto, o que não vamos é fazer mais nada, como é evidente”, acrescentou, relativamente ao 5G.
Sem citar nomes de membros do Governo, o gestor recordou a visita para a comemoração do facto de a Nos “ser a empresa em Portugal que mais investe em investigação e desenvolvimento”. Em 2019, “foi a empresa em Portugal que mais investiu em investigação e desenvolvimento e, by the way [já agora], a segunda que mais investiu também é do sector”, referiu Miguel Almeida.
“É evidente que vai desaparecer tudo”, lamentou, apontando que o “ataque concertado, neste caso de uma pessoa, às grandes empresas, tem consequências”. Afirmou não conhecer “nenhuma economia mundial que não tenha como pilar fundamental da sua economia grandes empresas”. “Aqui o que se está a tentar fazer é destruir tudo o que são grandes empresas e já não estou só a falar de telecomunicações”, prosseguiu o gestor.
“As grandes empresas são quem sustenta, quem dinamiza uma economia”, com as quais pequenas e médias empresas (PME) trabalham e “são fundamentais”. São as grandes empresas que agregam e têm a capacidade de investimento que depois permite desenvolver a economia toda, referiu.”E o que é que se está a conseguir com isto tudo?”, questionou, para dar a resposta logo de seguida: “Matar”.
A Nos tem vários processos judiciais no âmbito do leilão do 5G, entre os quais uma providência cautelar contra o regulamento. “Vamos ser realistas, estamos numa fase do processo em que cada vez mais é difícil parar” o processo, admitiu Miguel Almeida.
No entanto, “isso não me impede de deixar aqui um alerta em relação às consequências para a economia portuguesa, em relação às consequências para Portugal em geral”, prosseguiu. E também “uma reflexão sobre o papel dos reguladores, sobre os poderes dos reguladores, sobre a ausência de escrutínio” destes.
“É preciso pelo menos tirar alguns ensinamentos de uma coisa desastrosa que vai condenar o país - àquilo que já disse uma vez na comissão parlamentar - às trevas económicas e digitais. As trevas digitais no futuro são as trevas económicas, não há economia do futuro sem digital”, sublinhou.
Este “é de longe, mas muito de longe, o momento mais negro do sector porque aquilo que eu vi ao longo de 20 anos - e sabe que eu venho da [operadora] Optimus, das dificuldades que tivemos ao longo dos anos, que tivemos de batalhar contra concorrentes duros (...), a certa altura até se questionou a sustentabilidade da Optimus (...), momentos difíceis”, mas “nunca vivi nada assim”, afirmou o gestor. “Nunca vivi nada assim porque isto, de facto, é um momento negro”, reforçou Miguel Almeida.