João de Melo: “A literatura pode repor a dignidade do vencido”

Em Livro de Vozes e Sombras João de Melo faz uma revistação dos lugares do seu imaginário, ao mesmo tempo que reinventa a sua própria linguagem. Naquele que é um dos seus melhores romances, o escritor açoriano resgata os anos do independentismo insular e da descolonização num registo que é uma espécie de avesso da epopeia.

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Rui Gaudêncio

João de Melo (n. 1949) pertence à geração de escritores que se afirmou na década de 1980, trazendo para a literatura temas da História portuguesa mais recente, sobretudo as guerras em África, as vivências coloniais, e o “regresso à metrópole” dos soldados. O romance português renovou-se — mais do ponto de vista da linguagem do que de maneira formal — com o tratamento literário dado a estas “feridas” então ainda por cicatrizarem na sociedade portuguesa. Autor de dois dos mais importantes romances dessa década — O Meu Mundo Não É Deste Reino (1983) e Gente Feliz Com Lágrimas (1988) — teve a particularidade de ter escolhido os Açores (é natural da ilha de São Miguel) para centro do seu universo narrativo: as ilhas como um lugar de partidas quase sempre sem regressos.

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