Mariana Mortágua: “É um erro deixar o Banco de Portugal governar no Terreiro do Paço”

Bloco acusa Mário Centeno de voltar ao argumento que no passado sustentou as políticas de austeridade e as reformas estruturais que castigaram o país.

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Mariana Mortágua, deputada do Bloco Daniel Rocha

O Bloco de Esquerda não gostou de ouvir Mário Centeno dizer, na 10.ª conferência do Banco de Portugal, na segunda-feira, que “mais do que nunca, as novas políticas devem actuar na margem”, defendendo que os apoios sociais devem ser temporários e não permanentes. “É um erro deixar o Banco de Portugal governar no Terreiro do Paço”, reagiu nesta terça-feira a deputada bloquista Mariana Mortágua.

Quando a crise está no centro da vida colectiva, na Saúde e da Economia, responder pelas ‘margens’, como defende Centeno, é receita para o desastre. Os remendos do Governo não salvam o SNS e o emprego. É um erro deixar o Banco de Portugal governar no Terreiro do Paço”, escreveu a deputada no Twitter.

Na conferência referida, Mário Centeno falou mais como ex-ministro das Finanças do que como governador do Banco de Portugal. “Os apoios públicos devem ser temporários. Perante uma crise que não é estrutural não devemos mudar o essencial do nosso sistema de apoio social e económico”, disse o antigo governante, numa altura em que se inicia a discussão do Orçamento do Estado para 2021 na especialidade.

Também alertou para a necessidade de as medidas extraordinárias não se tornarem definitivas, para o facto de só haver retoma eficaz se os recursos públicos estiverem focados em projectos que já estão em curso, e manifestou a sua preocupação com uma dívida privada e pública que, essa, sim, pode ser permanente. “Os níveis de dívida tornam proibitivas as intervenções massivas nos apoios sociais e à economia”, reconheceu.

“O governador admite que a crise terá efeitos estruturais mas recusa qualquer alteração de fundo nos apoios sociais ou um apoio ‘massivo’ à economia. Preocupa-o que o investimento público vá além dos projectos já em curso e que sejam criadas ‘barreiras à mobilidade do trabalho’, ou seja, medidas legais que visem travar os despedimentos”, descreve Mariana Mortágua num artigo de opinião sobre o mesmo assunto publicado nesta terça-feira no Jornal de Notícias.

E não deixa de concluir: “Com palavras diferentes e de forma mitigada, o argumento de Mário Centeno tem a mesmíssima matriz ideológica que, no passado, sustentou as políticas de austeridade e as ‘reformas estruturais’ que castigaram o país. (...) Com a crise regressa, pelas mãos do costume, o discurso das inevitabilidades.”

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