Trump TV volta a ser notícia, desta vez para “arrasar” a Fox

Jornais norte-americanos dizem que o Presidente dos EUA está a preparar-se para lançar um grupo de media em 2021, num serviço pago e alimentado por milhões de apoiantes que acreditam nas acusações de fraude eleitoral.

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A relação entre o Presidente dos EUA e a Fox News deteriorou-se nas últimas semanas LUSA/CHRIS KLEPONIS / POOL

Poucos meses antes da eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos da América, quando as sondagens pareciam confirmar a opinião consensual de que Donald Trump ia ser derrotado por Hillary Clinton, começou a surgir o rumor de que o verdadeiro objectivo da entrada do magnata do imobiliário no mundo da política era, afinal, a criação de um lucrativo grupo de media. Trump, o herdeiro de uma fortuna multimilionária, nunca se esqueceu de que foram os jornais e as televisões que o ajudaram a criar o mito da sua riqueza feita a partir do nada.

A sua surpreendente vitória na eleição desse ano atirou para o baú das memórias as notícias e os artigos de opinião escritos sobre esse assunto em revistas como a New Yorker e nos jornais mais conceituados do país, como o New York Times e o Washington Post

Mas o recente afastamento entre Trump e o canal conservador Fox News trouxe de volta os rumores que foram postos de lado há quatro anos, naquela noite em que os eleitores do Partido Democrata começaram a ficar de pé atrás sempre que se fala de sondagens.

Ao longo do seu primeiro mandato, o Presidente dos EUA foi uma das estrelas que mais abrilhantaram o programa matinal Fox & Friends, cujos apresentadores eram regularmente elogiados por Trump na sua conta no Twitter. E entre os conselheiros mais próximos do Presidente dos EUA está Sean Hannity, um dos pivôs da Fox News mais conhecidos e apreciados pelos seus apoiantes mais fervorosos.

Essa relação de grande proximidade começou a desmoronar-se há menos de duas semanas, já depois da eleição de 3 de Novembro, quando a Fox News tomou uma decisão que a pôs na mira de Donald Trump. Muito antes de qualquer jornal ou canal de televisão que o Presidente dos EUA acusa de serem seus inimigos, a conservadora e até então fiel Fox News anunciou a vitória do candidato do Partido Democrata, Joe Biden, no Arizona – um estado que Trump vencera por quase quatro pontos percentuais na eleição de 2016.

Eram 23h20 na costa Leste dos EUA, na noite de 3 de Novembro, e a vantagem de Trump na contagem dos votos na Florida deixava em aberto a hipótese de uma reeleição, mais uma vez contra as sondagens. Quando a Fox News declarou que Biden seria o vencedor no Arizona, com apenas 73% dos votos contados, a estratégia de Trump de declarar a sua vitória ainda nessa noite sofreu um duro golpe.

“O que se seguiu para o Presidente Trump foi uma noite de telefonemas furiosos para governadores republicanos e de conselhos ignorados, levando-o a fazer uma declaração a meio da noite para alimentar acusações sem fundamento sobre o processo democrático”, disse o New York Times. “Às 2h30 da manhã, Trump disse que a eleição era uma fraude e exigiu que a contagem dos votos fosse interrompida até que o Supremo Tribunal se pronunciasse.”

Dias depois, a meio da semana passada, o site de notícias Axios avançava que Donald Trump se tinha fartado da Fox News e que estava a planear o lançamento do seu próprio canal – a diferença em relação a 2016, segundo o Axios, é que desta vez o projecto está a ser pensado apenas para o digital, devido aos elevados custos da entrada no cabo dos EUA.

Segundo o Axios, os mais próximos de Trump dizem que o Presidente dos EUA tem um alvo bem definido: “Ele quer arrasar a Fox. Não há dúvidas sobre isso.”

E até já são conhecidos alguns pormenores do plano para tirar milhões de espectadores à Fox, em particular ao serviço pago Fox Nation, que cobra 5,99 dólares (cinco euros) por mês aos seus subscritores. Para que o seu projecto triunfe no panorama mediático dos EUA, Trump conta com uma gigantesca lista de endereços de e-mail e com os milhões de eleitores que acreditam, sem reservas, que Joe Biden só ganhou porque houve fraude nas eleições.

“É possível que o Presidente Trump consiga causar danos à marca Fox e que afaste do canal os espectadores mais desiludidos. Isto porque é possível que o panorama dos media da direita conservadora, há muito controlado pela Fox, fique fragmentado”, disse Brian Stelter, pivô da CNN e especialista nos media.

Essa transferência de espectadores já se nota no crescimento de canais como o Newsmax e o OANN, que ocupam hoje em dia o lugar que a Fox News ocupou durante quatro anos no coração dos apoiantes mais fervorosos de Trump. 

Ao contrário da Fox – que declarou a vitória de Biden no Arizona e se refere a Joe Biden como o Presidente eleito dos EUA –, o Newsmax continua a promover a narrativa de que a eleição ainda não acabou, e que Donald Trump ainda vai ser reeleito para um segundo mandato. 

Na última sexta-feira, quando já se sabia que muitos dos processos em tribunal interpostos pelos advogados da campanha eleitoral de Trump tinham sido rejeitados nos tribunais, o canal fundado pelo conservador Christopher Ruddy registou uma audiência média de quase 800 mil espectadores, entre as 16h e as 20h. Antes da eleição de 3 de Novembro, o melhor que conseguia no mesmo horário era uma audiência média de 100 mil espectadores.

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