Primeiro-ministro da Etiópia ameaça com ofensiva “final” contra a região de Tigré
ONU alerta para “crise humanitária em grande escala”, com mais de quatro mil pessoas a fugirem diariamente do norte da Etiópia para o vizinho Sudão. Comité do Nobel da Paz, que premiou Abiy Ahmed em 2019, está “profundamente preocupado”.
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, afirmou esta terça-feira que o prazo para as forças rebeldes Tigré se renderem expirou e prometeu uma ofensiva “final” na região Norte do país nos próximos dias.
“O ultimato de três dias dado às forças especiais e milícias tigré para se renderem acabou hoje. O crítico acto final de implementação da lei será aplicado nos próximos dias”, ameaçou Ahmed, antevendo uma escalada de violência em Mekele, capital da região de Tigré.
O conflito entre as forças federais e a Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT) intensificou-se no início do mês de Novembro, com o primeiro-ministro Ahmed a acusar o partido que governa aquela região do Norte do país de atacar bases militares federais e de começar uma insurreição.
A FLPT, por seu lado, acusa Ahmed, que pertence à tribo oromo, de excluir membros da etnia tigré do poder, tendo realizado eleições na região em Setembro, contrariando as ordens do Governo federal, que as proibiu devido à pandemia de covid-19.
Desde o início do conflito, centenas ou milhares de pessoas já morreram – os números não são exactos, devido ao corte de comunicações na região –, existindo relatos de massacres de civis, e mais de 27 mil pessoas fugiram para o Sudão, segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
A mesma agência da ONU alertou esta terça-feira para uma “crise humanitária em grande escala” na região Tigré, onde cerca de quatro mil pessoas estão a abandonar, diariamente, a região devido a um conflito que poderá ter consequências devastadoras no Corno de África.
Governo rejeita negociar
Durante o último fim-de-semana, o conflito chegou à Eritreia, com a FLPT a bombardear o aeroporto de Asmara, acusando o país vizinho de estar a apoiar o Exército etíope, o que faz temer uma escalada do conflito a nível regional.
Mesmo antes do aumento da violência entre o Governo federal e a FLPT , grande parte dos habitantes de Tigré já dependia de ajuda humanitária para sobreviver, uma dificuldade que se agrava a cada dia que passa, numa altura em que se espera uma grande ofensiva do Exército da Etiópia no Norte do país.
Mohammed Adow, correspondente da Al-Jazeera, afirma que nas próximas 48 horas são esperadas várias ofensivas em Mekele, “o prémio necessário para derrotar a FLPT ”.
O líder tigré Debretsion Gebremichael disse à Reuters que há combates a decorrer, e, ao contrário do que afirma o Governo de Abiy Ahmed, garante que a cidade de Alamata, a 120 quilómetros de Mekele, continua sob controlo tigré, o que pode indicar que a ofensiva do Governo federal pode não estar avançar tão rapidamente como Ahmed pretende.
Gebremichael pediu ainda à ONU e à União Africana para condenarem a ofensiva do Governo federal e acusa o primeiro-ministro de “conduzir uma guerra para consolidar o seu poder pessoal”.
O primeiro-ministro etíope, laureado com o Prémio Nobel da Paz em 2019 pelos seus esforços em alcançar a paz com a vizinha Eritreia, tem rejeitado os apelos da comunidade internacional para negociar um acordo de paz com os tigré, e sublinha que apenas está disposto a sentar-se à mesa das negociações quando o Estado de Direito voltar à região.
Esta terça-feira, o Comité Nobel disse estar “profundamente preocupado” com os desenvolvimentos na Etiópia e pediu responsabilidade às partes envolvidas no conflito.
“Repete-se hoje o que já foi afirmado antes, ou seja, que é responsabilidade de todas as partes envolvidas porem fim à escalada de violência e resolverem os desacordos e conflitos através de meios pacíficos”, afirmou o Comité do Prémio Nobel da Paz, num comunicado enviado à Reuters.