Congresso do Peru não consegue eleger primeira mulher Presidente
Depois da demissão de Manuel Merino, que esteve apenas cinco dias no cargo, a crise política continua sem solução à vista. Deputados rejeitaram surpreendentemente a única proposta, a de Rocío Silva Santisteban.
O limbo político do Peru continuou depois de o Congresso rejeitar a única candidatura apresentada para suceder ao Presidente interino afastado no domingo. Os deputados não aprovaram a candidatura da deputada de esquerda e defensora dos direitos humanos Rocío Silva Santisteban, a principal figura de uma lista que pretendia ser de consenso.
A rejeição da lista de Santisteban foi uma surpresa, já que após várias e demoradas negociações se previa que fosse apoiada por uma maioria de deputados, mas recebeu apenas 42 votos a favor, 52 contra e 25 abstenções, diz o jornal espanhol El Mundo. O Congresso tem marcada uma segunda votação para esta segunda-feira, às 19h em Portugal Continental, em que o nome a votar será o do deputado Francisco Sagasti, engenheiro industrial e antigo responsável do Banco Mundial de 76 anos.
A capital, Lima, mantinha-se numa calma tensa, descrevia a agência Reuters, na expectativa de quem seria a próxima pessoa a ocupar a presidência. Antes, uma série de protestos contra o Presidente interino, Manuel Merino, escalaram em violência policial que fez dois mortos e vários feridos.
A saída do Presidente interino após menos de uma semana no cargo foi comemorada nas ruas. “Merino demitiu-se porque as suas mãos estavam manchadas de sangue”, dizia à agência britânica Clarisa Gomez, uma das manifestantes a celebrar a partida de Merino, acrescentando que os deputados que o escolheram também deviam ser responsabilizados.
Minutos antes de Merino anunciar que se afastava, o novo presidente do Congresso, Luis Valdez, anunciara que todos os partidos estavam de acordo para a sua saída e que se este não se demitisse, seria destituído.
Na última semana, muitos peruanos saíram à rua para protestar contra o afastamento do anterior Presidente, Martín Vizcarra, que o Congresso, dominado pela oposição, removeu do cargo por acusações de corrupção, que ele nega. Merino era o presidente do Congresso e tinha liderado o processo de destituição de Vizcarra.
O afastamento de Vizcarra foi considerada ilegítimo não só pelos peruanos que saíram à rua, mas também por organizações da sociedade civil ou de direitos humanos como a Human Rights Watch, e por uma parte da comunidade internacional, aponta o diário espanhol El País.
Vizcarra quer que a sua destituição seja avaliada pelo Tribunal Constitucional, e disse que não devem ser os deputados a decidir quem será o novo Presidente. “Devem ser os mesmos que levaram a cabo estas medidas inconstitucionais a trazer-nos uma solução?”, questionou. Muitos peruanos olham com desconfiança para o Congresso já que 68 entre 130 deputados estão a ser investigados por corrupção ou outros crimes.
O diário espanhol El Mundo critica o papel do Congresso, chamando-lhe “uma trituradora de primeiros mandatos” e lembrando que na legislatura de cinco anos já houve três presidentes diferentes. Os últimos quatro chefes de Estado peruanos foram todos destituídos por suspeitas de envolvimento em casos de corrupção, sempre com a participação da construtora brasileira Odebrecht, uma das que está no centro da Operação Lava-Jato.