Morreu James Symington: uma vida de “profundo amor pelo Douro”
James Symington morreu aos 86 anos, depois de mais de quatro décadas de dedicação ao vinho do Porto e ao centenário negócio familiar na região.
“Sou um britânico do Porto. Vivo aqui há tantos anos que o meu lar acaba por ser este”, dizia James Ronald O’Callaghan Symington ao PÚBLICO em 2008. “Figura de destaque do sector do vinho do Porto durante mais de 40 anos”, como se assinala em comunicado, James Symington, senhor de “um profundo amor pelo Douro”, morreu aos 86 anos a 7 de Novembro, tendo a família tornado pública a informação esta segunda-feira. A sua “dedicação ao Douro e aos seus vinhos ajudou a criar os alicerces do actual sucesso da região”.
Ao longo da sua vida, ajudou a internacionalizar o vinho do Porto e contribuiu fortemente para a implementação da Symington no negócio, tanto a nível comercial como na produção de vinho.
James nasceu no Porto em 1934, “membro da terceira geração da família” a produzir vinho do Porto. Foi o seu avô, Andrew James Symington – chegado a Portugal em 1882 e que casou com Beatrice Leitão de Carvalhosa Atkinson, “cuja família tinha raízes de longa data no vinho do Porto” –, o responsável por esta histórica relação. O pai de James, Ron, era “um notável provador e trabalhou com os seus irmãos na empresa familiar”.
Parte da infância e adolescência seria passada entre o Canadá, um breve regresso a Portugal e a Inglaterra. Por inclemências da Segunda Guerra Mundial, em 1941, a Embaixada Britânica “recomendou a todos os cidadãos britânicos para deixarem o país”. O jovem James partiu com mãe e irmãos para o Canadá, com uma breve escala em Nova Iorque que o tornaria de certo modo uma celebridade do dia seguinte graças a um divertido pormenor: com seis anos, James chegou a Manhattan, lembra a Symington, a “segurar uma rã que tinha levado consigo do seu jardim no Porto” – chamada de “rã transatlântica”, o petiz e o batráquio seriam “notícia de destaque no New York Times do dia seguinte”.
A vida levá-lo-ia a outro país que se tornaria importante ao longo das décadas seguintes: esteve ao serviço do exército de Sua Majestade no Quénia, onde, mesmo já reformado, regressava com frequência, tendo apoiado “projectos sociais e de protecção da vida selvagem” no país.
A sua carreira no vinho do Porto começou, de facto, em 1960, ano em que as vendas começavam a crescer. Casou e juntou-se ao negócio familiar, tendo começado como provador e loteador. Ao longo de uma década, aprendeu todas as artes do néctar do Douro, tornando-se o principal responsável pelas marcas da casa após a reforma do pai, em 1965. “Não tinha qualquer preparação para isso. Mas a ciência não era tão necessária nesses tempos como nos dias de hoje. Bastava ter experiência, nariz apurado e paladar”, dizia ao PÚBLICO. Foi responsável pelos conceituados Portos Vintage 1966 da Dow’s e da Warre’s, e do Graham’s 1970.
A carreira continuaria no lado comercial da empresa, onde “desenvolveu novos mercados nos Estados Unidos, Canadá e na Escandinávia. A sua “forte parceria” com os primos Michael e Ian (já falecidos, o primeiro em 2013, o segundo em 2019) “conduziu os destinos da empresa através de várias décadas conturbadas”. Entre os seus feitos, conta-se a fundação da Premium Port Wines em São Francisco, em 1985, a “primeira empresa de distribuição criada nos Estados Unidos por qualquer empresa de vinho do Porto”, ainda hoje, sublinha a Symington, “responsável por uma grande fatia das vendas de vinho do Porto” nos EUA.
Já em 1987, adquiriria com a mulher, Penny, uma quinta abandonada, a Quinta da Vila Velha. Restaurada, tem hoje em dia 55 hectares de Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca e vinhas velhas, produzindo para a Graham's.
A sua descendência continua a ligação ao vinho do Porto. James e Penny tiveram três filhos, sendo que Rupert é CEO da Symington e Clare também trabalha para a empresa, mas no Reino Unido. O neto Hugh, filho de Rupert, trabalha na Premium Port Wines que o avô fundou nos EUA.