Portugal dos Pequeninos
A orquestra do spin ao serviço do engano, da falácia e da distração está montada.
O país vive momentos de grande preocupação e o Governo socialista também. A braços com uma pandemia mal gerida, o SNS a dar sinais de desabamento e as narrativas fantasiosas dos ministros a não colherem na opinião pública, António Costa viu, nos últimos dias, as sondagens darem sinais negativos e a contestação pública a subir significativamente.
Para ajudar ao desnorte, viu Rui Rio, que no início do combate à pandemia foi “colaboração em vez de oposição”, endurecer a posição à medida que o tempo passava e que o Governo não acautelava a segunda vaga e se enredava em falácias e ineficácias.
Pelo meio, o Orçamento para 2021 — novamente muito frágil de ideias e opções — contestado também à esquerda.
Como se não bastasse, a chatice das presidenciais, com o PSD a assumir o apoio à mais-do-que-provável recandidatura de Marcelo e com Ana Gomes a posicionar-se contra a sua vontade.
A gota de água aconteceu no arquipélago açoriano, onde a hegemonia socialista se viu nas mãos da maioria parlamentar de partidos empenhados em trazer uma mudança política à região após 24 anos de desmandos da família César.
O rei vai nu e já toda a gente viu.
Urgia fazer algo, mudar o foco, pois nem as eleições americanas cumpriam o desígnio de distrair e atacar ao mesmo tempo.
Qual Flautista de Hamelin, António Costa comanda. Ministros e dirigentes socialistas afinam os sopros, comentadores do regime, fazedores de opinião encartados e outros assalariados, dedilham furiosamente as cordas... A orquestra do spin ao serviço do engano, da falácia e da distração está montada.
Uma estratégia tão conhecida quanto eficaz quando se tem o regime tristemente aos pés.
É de tal ordem a sinfonia que quase todos se deixam enredar pela ladainha:
- não interessa se os eleitores açorianos foram às urnas conscientes dos acordos parlamentares pós-eleitorais possíveis (inaugurados aliás pelo próprio António Costa, defraudando à época todas as convenções existentes e eleitores votantes) nem interessa se o PS normalizou a extrema-esquerda trotskista totalitária ou comunista e antieuropeísta;
- interessa diabolizar o Chega para atacar Rio — esse perigoso usurpador de governos socialistas que põe o país à frente do seu próprio partido — que apesar de ter dito inúmeras vezes (e lhe ser reconhecido ser homem de palavra) ter do Chega divergências profundas e só aceitar conversar se moderarem as suas posições;
- interessa contraditar Rio ad nauseum mesmo que para tal seja necessário mentir ou ser intelectualmente desonesto;
A narrativa é clara: alerta! Há linhas vermelhas e o PSD (ultimamente tão perigosamente centrado) deve ser abatido já! Fale-se da castração química que o PSD não defende, fale-se da prisão perpétua a que o PSD se opõe, mescle-se isso com redução do número de deputados, com combate à corrupção ou com a criação de emprego e consequente redução da subsidiodependência!
É tanto o ruído dos pratos de choque, dos tambores e das cornetas (com tanto tempo de antena e sem nenhum escrutínio ou análise criteriosa e decente), que passamos todos por tolos… enquanto o mau Orçamento deixa de ser assunto, a Saúde e a pandemia têm menos tempo de antena, as medidas que asfixiam a Economia são menos faladas e o país se torna cada vez mais um Portugal dos Pequeninos... de espírito.