Irão
Um ataque com ácido cegou-a. Agora, quer ser um exemplo: “A beleza não se vê com os olhos”
Em Dezembro de 1987, a iraniana Masoumeh Ataei pediu o divórcio. Vítima de abuso e agressão por parte do marido ao longo de vários anos, abandonou o lar na companhia do filho, Arian, e refugiou-se na casa do seu pai, nos arredores de Teerão. Durante os dez anos seguintes, a iraniana permitiu que o pai e o avô paterno da criança a visitassem. Mas no dia 4 de Setembro de 2010 tudo mudou.
Durante uma visita do ex-sogro, este insistiu em oferecer a Masoumeh um presente. Pediu-lhe que fechasse os olhos, para que fosse uma surpresa. Retirou da mala do carro um balde de ácido e atirou o líquido sobre o rosto da mulher, relata a BBC. Em consequência, Masoumeh ficou cega dos dois olhos e com queimaduras graves no rosto. "Hossein Ali Hemmat, o pai do meu ex-marido", refere numa publicação recente na sua conta de Instagram, "é responsável por me ter feito passar os dez melhores anos da minha vida no escuro, privada de ver crescer o meu único filho."
Antes do ataque, a iraniana era artista gráfica. Num esforço de readaptação à perda de visão, dedicou-se à cerâmica, à escultura e ao teatro. E ao activismo. Mais recentemente, desfilou, enquanto modelo, num workshop de moda em Teerão, que a Reuters também acompanhou. "Há muito que desejava fazer algo que me tornasse num exemplo para outras vítimas de ataques com ácido", disse ao jornal online Iran Newspaper. "Quis entrar nesta área [da moda] para oferecer uma definição alternativa de beleza. Quero poder dizer que a beleza não se vê com os olhos." Masoumeh não é, porém, modelo profissional. "Este é um acto simbólico, apenas. Mas se tiver ofertas de trabalho por parte de marcas de roupa, irei considerá-las. Se tal acontecer, farei questão de abrir caminho para que outras vítimas de ataques com ácido também possam fazê-lo."
Actualmente, Masoumeh está internada numa clínica de cirurgia plástica, onde luta, com a ajuda de médicos, para apagar as cicatrizes decorrentes do ataque. Em paralelo, angaria fundos para uma cirurgia ocular que poderá restaurar-lhe a visão. "É necessário contar ao mundo o que se passa aqui [no Irão] e aquilo que acontece a uma vítima de ácido que perdeu a beleza, a visão", conclui.