Os confinamentos parciais na Europa dão sinais “encorajadores” — mas e depois?

França e Alemanha avisam, no entanto, que restrições se vão manter. E cientistas alertam para a possibilidade de serem necessários confinamentos cíclicos.

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Jean Castex antes de fazer o ponto da situação das medidas de confinamento em França EPA

Uma série de países europeus começaram a ver sinais encorajadores dos seus confinamentos parciais, com uma diminuição marcada do número de casos diários na República Checa e na Bélgica, ou ainda uma desaceleração da subida de novos casos de infecção na Alemanha. 

A República Checa foi um dos primeiros a introduzir um novo confinamento, com medidas mais restritas do que os outros países, encerrando também escolas (além de bares e restaurantes, proibindo também a venda de álcool em locais públicos).

Esta quinta-feira foram registados 8925 novos casos no país, uma descida significativa do maior número desde o início da pandemia, os 15.727 da quarta-feira da semana passada. O país considerou que podia já reabrir algumas das escolas: os alunos de seis e sete anos vão voltar às aulas a 16 de Novembro, diz o diário francês Le Monde.

Já na Alemanha, os números mostram uma “redução significativa” da transmissão, mas esta continua a subir. Depois de quatro dias com menos de 20 mil casos por dia, o país reportou nesta quinta-feira 21.866 casos. 

O ministro da Saúde, Jens Spahn, sublinhou que o pico de novas infecções ainda não aconteceu. A desaceleração é “um sinal encorajador, mas não é suficiente ainda”, disse.

E mesmo quando houver uma diminuição, as restrições deverão continuar. “Isso não quer dizer que em Dezembro ou Janeiro possa voltar tudo ao mesmo e que haja festas de Natal como se não tivesse acontecido nada”, alertou. “Não vejo que este Inverno seja possível possa haver reuniões com mais de dez ou 15 pessoas.”

Na Bélgica, que foi partilhando com a República Checa o lugar de país mais afectado ao longo da crise de saúde, responsáveis falam do afastamento “de um cenário de desastre”. O porta-voz para a covid-19, Yves Van Laethem, notou que, pela primeira vez, país estava a ver “estabilizar os números de pessoas em cuidados intensivos”, um alívio perante um cenário de camas insuficientes para os casos graves de covid-19.

As medidas que incluem encerrar restaurantes e lojas não essenciais ainda estarão em vigor mais um mês.

França continua numa situação difícil e com 35.879 novas infecções registadas na quarta-feira foi o pior país da Europa neste indicador, embora tenha descido em relação aos três dias em que registou mais de 50 mil casos, na semana passada.

“A nossa estratégia parece estar a produzir os primeiros efeitos esperados”, disse nesta quinta-feira à noite o primeiro-ministro, Jean Castex, fazendo um balanço.

Mas não se nota ainda uma descida nos números de internamentos hospitalares, “e esse é o objectivo”, sublinhou Castex. As restrições vão por isso manter-se “pelo menos nos próximos quinze dias”.

Problema: o que fazer a seguir?

Os confinamentos-light, ou “isolamento sem confinamento”, têm tido formas diferentes mas o objectivo é sempre o mesmo: limitar o número de contactos de cada pessoa, sem fechar tudo.

Especialistas apontam, no entanto, alguns problemas a estes confinamentos.

O primeiro é que como não se trata de um confinamento total, e se segue a um período de maior descontracção, é mais fácil que as regras sejam contornadas.

Em França, um inquérito do instituto Ifop divulgado esta quinta-feira mostrava que 60% dos inquiridos não estavam a seguir as regras, dando motivos falsos para estar fora de casa ou para ir ter com familiares ou amigos.

Na Bélgica, tem havido muitas pessoas a ir jantar ao Luxemburgo ou fazer compras aos Países Baixos, escapando assim às restrições no seu país — até um presidente da câmara de uma cidade flamenga foi visto a comprar peixe fresco numa cidade holandesa, conta o Brussels Times

Mesmo no interior, o movimento abrandou menos do que poderia, dizem alguns especialistas. O virologista belga Marc van Ranst, da Universidade de Lovaina, desabafava no Twitter: “É quinta-feira, 12 de Novembro, e ainda há demasiadas filas de trânsito esta manhã. Ainda há demasiadas empresas a não aplicar a obrigação de teletrabalho  quantas empresas foram castigadas por estarem a permitir pouco teletrabalho?”, questionou.

Quando o Governo de Angela Merkel anunciou novas restrições há cerca de duas semanas, houve vozes contra. Uma foi a do virologista Jonas Schmidt-Chanasit, do Instituto de Medicina Tropical Bernjard Nocht em Hamburgo. O especialista argumentou que as restrições já existentes teriam sido suficientes para travar as novas infecções, se tivessem sido de facto cumpridas, nota a revista Science.

O segundo problema é que sem uma estratégia diferente para o que fazer a seguir, os números voltarão a subir, obrigando a uma nova imposição de restrições. 

O virologista Albert Osterhaus, da Universidade de Medicina Veterinária de Hanôver, disse à revista Science que os países se arriscam assim a uma sucessão de confinamentos e desconfinamentos, num padrão “acima, abaixo, acima, abaixo”, sem saída até que surja uma vacina

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