Comerciantes continuam à espera de explicações sobre o fim-de-semana
Governo e parceiros sociais reuniram-se ontem, mas o executivo não esclareceu dúvidas dos empresários sobre como se aplicam as restrições no sábado e domingo. Comércio quer perceber se as lojas que não sejam de alimentação podem continuar abertas depois das 13h.
Milhares de comerciantes do país continuavam ontem sem saber como se organizar no próximo fim-de-semana para cumprirem as restrições de circulação impostas em 121 concelhos para sábado e domingo a partir das 13h.
O Governo reuniu-se ontem à tarde com os parceiros sociais, mas os representantes do sector do comércio e serviços chegaram ao fim da reunião sem respostas às dúvidas. As lojas serão obrigadas a encerrar depois das 13h no sábado e domingo se não forem estabelecimentos de alimentação e higiene? E para compensarem a falta de clientes, poderão abrir mais cedo, antes das 10h?
Estas e outras perguntas têm chegado à Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), mas na reunião da concertação social “não ficou esclarecida nenhuma”, revelou ao PÚBLICO o presidente da confederação, João Vieira Lopes, adiantando que o ministro da Economia e número dois do Governo, Pedro Siza Vieira, disse que esses esclarecimentos serão prestados até sexta-feira — ou seja, até à véspera da obrigatoriedade de cumprimento das restrições especiais.
João Vieira Lopes afirma que a confederação está a ser inundada por “centenas de telefonemas” de associados sobre a aplicação do decreto-lei que regulamenta a aplicação do estado de emergência, texto que a CCP considera ser pouco claro, estando a “tornar a situação insustentável para quem tem que gerir uma empresa de comércio ou de serviços ao consumidor”.
Antes da reunião da concertação social, que decorreu por videoconferência, a CCP emitiu um comunicado a dar conta das principais inquietações que têm chegado à confederação patronal. “Os estabelecimentos, com excepção dos sectores de alimentação e higiene, são obrigados a fechar sábado e domingo depois das 13h, nos próximos dois fins de semana?; Podem estes estabelecimentos praticar horários de abertura mais vantajosos, para compensar a falta de consumidores no período da tarde? Ou estão obrigados a cumprir o horário de abertura às 10h, na ausência de deliberações camarárias mais favoráveis? Mantém-se válida, no quadro da declaração do estado de emergência, a deliberação do presidente de Câmara que define horários de funcionamento mais favoráveis?”.
Outros exemplos: “Se os estabelecimentos permanecerem abertos, o que podem/devem fazer para recusar clientes? Como se distingue num conjunto comercial ou centro comercial se um consumidor vai a uma loja alimentar ou a outro estabelecimento?; qual a lógica de um restaurante estar proibido de receber clientes para take-away a partir das 13h e uma loja alimentar poder fazê-lo?; qual a lógica de um estabelecimento comercial de vestuário não poder receber clientes e um hipermercado poder vender essas categorias de produtos?”.
Questionada em conferência de imprensa no final do encontro sobre esta última crítica, a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, disse apenas que, “em relação a dúvidas mais concretas” de algumas actividades, “foi pedido” aos parceiros que “sinalizassem todas as questões, para serem dadas informações e esclarecimentos por parte do Governo”.
Terá de o fazer entre hoje e amanhã, pois os próximos dois sábados e domingos (dias 14 e 15, 21 e 22 de Novembro) implicam em 121 concelhos de maior risco de contágio um recolhimento obrigatório tanto à noite como durante a tarde, logo a partir das 13h.
APED teme ajuntamentos
As críticas não vêm apenas da confederação representada na concertação social. A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), onde estão representadas algumas das grandes empresas do retalho, escreveu ao primeiro-ministro, António Costa, a alertar para as implicações da limitação dos horários para o ramo não alimentar, avisando que esse é um “factor perturbador do bom funcionamento” dos espaços comerciais. “Concentrar as compras de Natal em horários reduzidos só contribuirá para provocar ajuntamentos de pessoas à porta das lojas, precisamente aquilo que se quer evitar, situação que acontece hoje com o sector do retalho especializado que foi literalmente fustigado desde o início da pandemia”, avisou a associação em comunicado.
Por seu turno, a CCP insiste para que o Governo dê uma “resposta clara e urgente”, sob pena de as empresas não conseguirem cumprir as “disposições que regulamentam o estado de emergência e os objectivos subjacentes a essa regulamentação”.
Na reunião entre os parceiros sociais e o Governo participou também a ministra da Saúde, Marta Temido, que falou sobre as perspectivas de capacidade de resposta e defendeu a necessidade de haver medidas preventivas para minimizar a propagação do novo coronavírus.
Além deste tópico, o encontro serviu para o Governo apresentar as medidas de apoio à indústria e às micro e pequenas empresas, bem como um balanço das medidas em vigor, como o instrumento que sucedeu ao layoff simplificado.
Segundo Ana Mendes Godinho, as centrais sindicais e as confederações patronais foram ouvidas sobre “o que consideram fundamental para apoiar as áreas mais afectadas pelos limites de circulação” durante os dois próximos fins-de-semana.
A discussão sobre o aumento do salário mínimo, actualmente em 635 euros mensais, não foi tema da reunião de ontem. A um mês e meio do início do próximo ano, o valor para 2021 ainda não está fixado, embora o Governo já tenha assegurado que haverá uma actualização e mantenha em cima da mesa o objectivo de a remuneração estar nos 750 euros em 2023.