Arménios exigem demissão do primeiro-ministro devido ao cessar-fogo no Nagorno-Karabakh
Nas ruas chama-se “traidor” a Nikol Pashinyan, que fechou o acordo com o Azerbaijão para evitar a perda completa do enclave. Falta de quórum no Parlamento travou debate sobre a sua possível saída.
A revolta política e popular na Arménia devido ao cessar-fogo no Nagorno-Karabakh pode custar a chefia do Governo a Nikol Pashinyan. Na segunda-feira eclodiram protestos nas ruas contra o acordo que é classificado de “traição” e, nesta quarta-feira, a polícia deteve um dos líderes da oposição, Gagik Tsarukyan, e várias outras pessoas que participavam numa manifestação convocada por 17 partidos, em Erevan, capital arménia.
Milhares de manifestantes gritaram “Nikol é um traidor” e “Nikol, sai” em frente ao Parlamento, levando a polícia a avançar para os dispersar e a deter dezenas deles. Segundo as testemunhas ouvidas pela agência Reuters, rapidamente outra manifestação se formou.
As manifestações estão proibidas ao abrigo da lei marcial decretada na Arménia devido aos combates no Nagorno-Karabakh, um enclave controlado pela maioria arménia em território do Azerbaijão e que é reconhecido internacionalmente como fazendo parte deste país.
A manifestação desta quarta-feira foi marcada por 17 partidos políticos que, na terça-feira, pediram a Pashinyan para se demitir devido aos termos do cessar-fogo, que congelou os avanços territoriais conseguidos pelas forças azeris nos combates que começaram a 27 de Setembro. Na rua, fez-se um ultimato: o primeiro-ministro devia deixar o cargo até à meia-noite de terça-feira.
Entre os detidos nesta quarta-feira, está Gagik Tsarukyan, líder do Partido da Arménia Próspera (oposição), segundo informações divulgadas nas redes sociais por um membro da formação, Hripsime Arakelian.
O acordo foi celebrado como uma vitória no Azerbaijão, que neste conflito recuperou território perdido na guerra dos anos de 1990.
Na Arménia, o cessar-fogo causou motins, com a multidão a assaltar edifícios do Governo na segunda-feira. Pashinyan disse que não teve alternativa e que assinou o acordo – que envolveu também a Rússia, que nos termos do pacto vai enviar 2000 soldados para a região – para evitar maiores perdas de território no Nagorno.
"Isto foi um grande fracasso e um revés”, assumiu Pashinyan na terça-feira, acrescentando que assumia a responsabilidade pelo processo, mas rejeitando demitir-se.
Pashinyan disse que fechou o acordo de cessar-fogo pressionado pelo Exército. E os dirigentes do Nagorno-Karabakh admitiram que se corria o risco de o Azerbaijão assumir o controlo de todo o enclave, depois da queda da segunda maior cidade do território, a que os arménios chamam Shushi e os azeris Shusha.
A pressão das ruas e dos partidos políticos levou o Parlamento a marcar uma sessão, para a noite desta quarta-feira, para discutir a permanência de Pashinyan no cargo. A falta de quórum não permitiu, no entanto, que o debate pudesse ser realizado.
A oposição pediu então aos manifestantes para abandonarem as imediações no Parlamento e prometeu revelar os próximos passos na quinta-feira.