Portugueses colocam o seu bem-estar em valores positivos pela primeira vez
Indicadores relacionados com a segurança, saúde, educação e ambiente contribuem de forma mais vincada para estes resultados, segundo o Instituto Nacional de Estatística. O relatório diz respeito a 2019, pelo que não reflecte o efeito da pandemia de covid-19.
Os portugueses estão a avaliar o seu bem-estar de forma cada vez mais positiva, mostrando-se particularmente satisfeitos com indicadores ligados à sua segurança pessoal, educação, saúde e ao ambiente, mas o Índice de Bem-Estar (IBE) para 2019, revelado esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) tem uma particularidade: é a primeira vez que a nota é positiva. Numa escala de 0 a 100, ainda estamos apenas nos 50, mas este é “o valor mais elevado de sempre”, salienta o INE. Em 2004 não íamos além dos 23,5 pontos.
O IBE analisa dez domínios relacionados com dois grandes grupos — condições materiais de vida e qualidade de vida — e, salvo raras excepções em alguns períodos de tempo, os portugueses têm-se mostrado cada vez mais satisfeitos com as condições que lhe proporcionam bem-estar, embora nem todos os aspectos analisados contribuam para isso na mesma proporção.
Os dados relativos a 2019, e que são ainda preliminares, mostram-nos que há coisas que nos deixam particularmente satisfeitos, com a (baixa) taxa de criminalidade à cabeça de todas elas. Junta-se o bem-estar traduzido pela redução da taxa de desemprego — depois do período negro da crise económica e financeira —, pelos níveis de abandono precoce da formação, para os estudantes ente os 18 e os 24 anos, ou pelo número de praias com bandeira azul.
Em termos gerais, e olhando para a evolução entre 2004 e 2019, percebe-se que os portugueses avaliaram mais positivamente as condições materiais que lhe foram proporcionadas (e que fica, em 2019, cerca de 30 pontos acima dos valores de 2004), do que a qualidade de vida em geral que sentem (sobe 24,4 pontos entre aqueles anos). Neste último campo, são avaliados aspectos como a segurança pessoal, a educação, conhecimento e competências, a saúde, o ambiente ou o balanço vida-trabalho. E este último indicador, como se vê no IBE, “é o que menos cresce”, mantendo-se estável desde 2010.
Não é que os portugueses não se mostrem bem mais contentes com a forma como conseguem apreciar o tempo dedicado aos contactos interpessoais ou às actividades de lazer e à sua vida familiar e social. O problema é que o aumento do IBE nestes campos não chega para compensar a fraca evolução (estável nos últimos dois anos, mas com forte decréscimo antes disso e após 2012) dos dados que indicam o quão bem nos sentimos em relação ao apoio familiar que prestamos, ou à nossa capacidade de conciliar o trabalho com as responsabilidades familiares.
Um outro campo analisado pelo INE é o das relações sociais e bem-estar subjectivo e, aqui, a evolução é notória, sobretudo em alguns indicadores. Basta olharmos para o “grau de felicidade (feliz ou muito feliz)”, que em 2008 não conseguia mais do que 1,2 pontos, e dez anos depois estava perto dos 67.
O IBE permite-nos perceber que, com algumas oscilações, a nossa avaliação da qualidade de vida tem tido uma evolução consistentemente positiva, enquanto o das condições materiais de vida teve alguns anos francamente piores, directamente relacionados com os indicadores relacionados com o emprego e a vulnerabilidade económica.
Ambos foram fortemente afectados pela crise e tiveram uma evolução globalmente negativa entre 2004 e 2014, com essa tendência a inverter-se a partir daí.
Fica a curiosidade do que dirá o IBE do próximo ano, não só nestes dois indicadores — afectados pelos efeitos da pandemia —, mas também naqueles relacionados com a saúde e a educação, dois campos que foram particularmente tocados pelas mudanças a que a covid-19 obrigou.
De volta aos indicadores relacionados com o emprego, apenas mais um dado: os portugueses não estão particularmente satisfeitos com a disparidade salarial entre homens e mulheres e, como nos veio lembrar um comunicado do Governo, há razões para isso. É que esta terça-feira assinala-se precisamente o Dia Nacional da Igualdade Salarial, uma data móvel e que assinala o dia a partir do qual, fruto da disparidade salarial, as mulheres deixam, virtualmente, de ser remuneradas pelo seu trabalho, enquanto os homens continuam a receber salário até ao final do ano.