Letalidade da covid-19 tem subido e “é preocupante”, assume ministra da Saúde

Nas últimas 24 horas morreram 52 pessoas por covid, o segundo valor diário mais alto registado desde o início da pandemia no país. Marta Temido visitou Hospital de Penafiel e unidade de saúde pública da zona.

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Marta Temido, após visita ao Norte do país para reunir com responsáveis dos centros de saúde e do Hospital de Penafiel LUSA/JOSÉ COELHO/POOL

A letalidade da covid-19 “tem subido nos últimos dias e é bastante preocupante”, assumiu a ministra da Saúde, depois de ter feito um pequeno balanço sobre os números relatados pelo boletim da Direcção-Geral da Saúde. Nas últimas 24 horas morreram 52 pessoas por covid-19, o segundo valor diário mais alto registado desde o início da pandemia no país.

Marta Temido falou aos jornalistas depois de, durante a manhã, ter visitado e reunido com profissionais de saúde e responsáveis e do Agrupamento de Centros de Saúde do Vale do Sousa, incluindo elementos da unidade de saúde pública. E uma das questões que mais a preocupa são atrasos na realização de inquéritos epidemiológicos, fundamentais para limitar as cadeias de transmissão.

“Estivemos a analisar, com a unidade de saúde pública, os atrasos na realização dos inquéritos epidemiológicos e as formas que vamos ter de usar no terreno para resolver os atrasos”, disse a ministra, referindo que por dia estão a ser feitos certa de 300 inquéritos epidemiológicos, “mas isso corresponde a casos que estão a entrar”. “Há um conjunto com mais dias acumulados” que têm ser recuperados e que Marta Temido espera que se possa fazer em 15 dias a três semanas.

A ministra também marcou presença no Hospital de Penafiel, um dos que viveu maior pressão nas últimas semanas. A situação nos dois últimos dias aliviou, graças à transferência de doentes para o Hospital Universidade Fernando Pessoa e para várias unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não só a Norte, mas também no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Em comunicado no qual dá conta que actualizou o seu plano de Outono/Inverno, o Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Norte – a que pertence o Santa Maria refere que tem já “19 vagas reservadas” para doentes transferidos da região Norte: “Nove camas para doentes já transferidos do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa e dez vagas do Centro Hospitalar Médio Ave.”

“A aposta é procurar uma resposta de proximidade. Mas quando uma região começa a ficar saturada, pode ser preferível transferir para hospitais mais longe, para ter bolsa oxigénio para responder. Procuramos sempre a melhor solução”, afirmou Marta Temido, que assegurou que no Hospital de Penafiel “não faltarão meios para resolver as necessidades assistenciais imediatamente”.

Questionada sobre acordos com o privado, a ministra disse que existem vários acordos para doentes não-covid-19 e que “começam a surgir as primeiras respostas covid, além do Hospital Universidade Fernando Pessoa. Fonte do grupo CUF revelou ao PÚBLICO que o Hospital CUF Porto já recebeu três doentes covid-19 do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa e que ainda esta sexta-feira mais um doente desta unidade seria transferido. Disse ainda que o grupo “está a reforçar a capacidade de camas para doentes covid, das 20 actuais, para 36 camas - 22 no Porto e 14 em Lisboa”. Destas, nove são camas de cuidados intensivos.

“No centro do furacão”

“Não podemos baixar a guarda”, afirmou Marta Temido, referindo que os profissionais de saúde “têm dado o melhor de si” mas que “estão cansados”. Ficou o pedido para que “cá fora” se “alivie a pressão” para que o SNS tenha capacidade de resposta. Questionada sobre relatos de enfermeiros que disseram que houve hospitais que recusaram receber doentes por considerarem que o Hospital de Penafiel não se tinha preparado, a ministra afirmou que “isso seria inaceitável do ponto de vista ética e humano”.

“Cada hospital fez o melhor para se preparar. O Hospital de Penafiel está no centro do furacão neste momento. É normal que tenha tido uma maior pressão. Nenhuma unidade do SNS está livre de vir a sofrer pressão”, disse. “O Centro Hospitalar Médio Ave está agora a sentir maior pressão, o Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga também e até hospitais fim de linha da região também estão sentir grande pressão”, exemplificou. “Esperamos que as coisas corram melhor, mas não estamos livres de sentir novamente pressão e mortalidade elevada dos próximos dias”, admitiu Marta Temido.

Quanto aos pedidos para mais contratações de profissionais de saúde, a ministra afirmou que não existe disponibilidade no mercado. “O mercado não tem disponibilidade neste momento e muitos profissionais ficaram doentes. Um dos aspectos que os profissionais transmitiram é que um hospital espelha a comunidade em que se integra. Muitos profissionais também estão infectados e isso tem impacto na capacidade de resposta. É difícil substituir pessoas quando a infecção se transmite de forma tão significativa na comunidade”, disse. Mas assegurou que não faltarão meios para responder às necessidades. “O mercado não tem pessoas de imediato para serem contratadas, mas outras estamos a usar outras formas para resolver o problema”, afirmou Marta Temido.

A ministra também se reuniu com a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa. Marta Temido salientou a importância do envolvimento dos vários sectores na resposta à pandemia, desde as autarquias à Segurança Social. “É relevante que se perceba que, tal como foi decisivo o envolvimento das autarquias e da Segurança Social para controlar a situação das 19 freguesias [da zona metropolitana] de Lisboa, em todo o país só vamos ter sucesso se trabalharmos em conjunto”, salientou, lembrando que “responder a uma pandemia é difícil por mais planeamento que haja”.

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