Paulo Flores, Prodígio, Angola e Esperança, num disco “com muita dor dentro”

Primeiro álbum conjunto de Paulo Flores com o rapper angolano Prodígio, A Bênção e a Maldição chega esta sexta-feira às lojas com chancela da Sony Music, numa catarse musical sob o signo da esperança.

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Prodígio e Paulo Flores no videoclipe Fome DR

O projecto chama-se Esperança e o álbum A Bênção e a Maldição. Paulo Flores e o rapper Prodígio, ambos angolanos e reconhecidos nacional e internacionalmente, juntaram vozes e vontades num disco com nove temas, por onde passa uma forte crítica social mas também um claro desejo de mudança. “Essa é a história da família de Angola”, assim nos canta Paulo Flores, e mais adiante Prodígio riposta: “P’ra quê ter tanta riqueza e ser pobre?”

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A capa do disco

Músicos de diferentes gerações, Paulo Flores nascido em 1972 e Prodígio em 1988, aquilo que os juntou agora em disco nasceu num encontro familiar, como conta Paulo Flores ao PÚBLICO: “Aconteceu numa conversa em minha casa, até era no aniversário do meu filho. Eu não me estava a sentir muito bem, estava até em baixo fisicamente, e lembro-me que o Prodígio disse: ‘Cota, temos de fazer algo juntos’. E aquilo começou com uma troca de áudios, em que ele me mandava algumas ideias, porque ele queria muito que eu cantasse como cantava no início da carreira, nos primeiros discos. Lembro-me de ele me ter mandado a ideia da Fome, cantando ‘eu sou a fome’ com a voz dele, e eu a tentar perceber como é que ia sentir aquilo.”

A pobreza e a esperança

Do seu lado, Paulo Flores também fez uma recolha de coisas que tinha, como Nzambi. “Mas quando fui para estúdio é que me veio a ideia do refrão. A maior parte das letras e melodias, criámo-las no estúdio. Foram quatro a cinco dias em que tudo aquilo saiu, em que cantámos, improvisámos, chorámos. É um trabalho intuitivo, muito cru, com muita dor dentro. É quase como uma catarse que nós fazemos. Não é um trabalho pensado, é mais um trabalho sentido.”

Este trabalho conjunto nasceu, ainda assim, sob o signo da esperança, que aliás deu nome ao projecto que associou estes dois músicos: “É o nosso motivo, dar alento às pessoas que estão no limiar da miséria. Nas nossas viagens a Angola, cada vez íamos sentindo mais esses problemas sociais, esse distanciamento, as pessoas a ficarem cada vez mais afastadas da possibilidade de viverem uma vida digna. Então criámos o canal Esperança. E o título A Bênção e a Maldição vinha-nos sempre à cabeça, do Prodígio principalmente, porque no fundo é o que sentimos em relação a Angola: tanta riqueza que gera no final tanta pobreza. Mas foi a esperança que eu quis pôr sempre como mote, porque no fundo tornei-me hoje mais velho, mais espiritual, mais atento a todas essas questões, energéticas e do universo.”

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Paulo Flores e Prodígio num fragmento do videoclipe Fome DR

“Desta vez sem as catanas”

As palavras bênção e maldição que surgem no título do disco têm, para Paulo Flores, uma justificação clara: “A bênção é o amor que nós temos à terra, ao lugar de onde somos, o que representamos e queremos representar. E a maldição é tudo o que não conseguimos, uma independência que se torna in-dependência, que aliás vai ser o tema e o título do meu próximo disco, em 2021. É nós vermos todas as possibilidades que temos e tudo aquilo que não realizámos, principalmente em relação à inserção social e à oportunidade de vida para todos.”

Além de Nzambi e Fome, primeiro e segundo singles a serem divulgados, o disco tem mais seis canções: História, Viola, A vida é curta, Kafriki, Esquebra e Minga. Que não poupam nas palavras para dizer coisas como esta (em Fome), ritmada pela voz de Prodígio: “Por uma Angola sem truques, onde toda a gente desfrute, uma mão no coração e outra no batuque. E tocamos todos juntos, meus manos, minhas manas, desta vez sem as catanas”.

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