Craig Leeson: “O plástico está a cobrir a Terra como uma doença”

O jornalista Craig Leeson tem-se dedicado a mostrar como a poluição de plástico tem revestido o nosso planeta.

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Craig Leeson DR

Não é de todo uma novidade: o plástico está um pouco por todo o planeta. Mas nunca é de mais mostrar como está a revestir a Terra. É precisamente isso que o jornalista Craig Leeson, juntamente com uma equipa internacional de cientistas, faz no documentário de 2016 Um Oceano de Plástico. Ao viajar por vários locais explora o que o plástico está a fazer ao oceano e aos seres vivos que vivem nele e dele. Esta sexta-feira, o jornalista será um dos participantes na conferência anual do BNP Paribas Portugal Leading Change com o tema “Economia Azul”. 

Craig Leeson não estava bem consciente do problema do plástico até quando, há uns anos, os produtores do documentário lhe perguntaram se conhecia este problema. “Fui então procurar plástico e o que encontrei foi impressionante”, conta ao PÚBLICO. Quando ia surfar, reparava em sacos de plástico a flutuar. Havia fragmentos de plástico colorido na areia da praia. Cordas de nylon, linhas pesca e sacos envolviam os recifes. Ou sabia que animais eram “apanhados” pelo plástico. “Foi quando percebi que o plástico se tinha tornado parte da minha vida, mas que era invisível para mim”, pensou. “Então também deveria ser invisível para as pessoas que não tinha uma relação com o oceano. Foi aí que percebi que tinha de contar a história.”

Ao longo do documentário, mostra-se plástico no estômago de seres vivos ligados ao oceano, como o plástico já chegou às profundezas oceânicas, como crianças vivem entre o plástico nas Filipinas e é dada voz a cientistas (entre elas está a oceanógrafa Sylvia Earle). No final, Craig Leeson espera transmitir este alerta: “Os plásticos descartáveis são tóxicos, estão a matar animais e a prejudicar as nossas crianças.”

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Craig Leeson no documentário com fragmentos de plástico tirados do estômago de aves DR

E quais os maiores problemas relacionados com o plástico? “Tudo o que se possa imaginar e pior ainda. O plástico está a cobrir a Terra como uma doença, a prejudicar e matar animais, e a entrar na nossa cadeia alimentar”, responde o jornalista australiano, que actualmente vive em Hong Kong. Apesar de já existir muita investigação científica, ainda há muito a saber sobre este problema. Craig Leeson nota mesmo que deveria ser mais explorada a relação entre os plásticos e a saúde humana – investigação que já está a decorrer. “Estamos apenas a começar a perceber os efeitos dos plásticos no nosso corpo.”

Para minimizar este problema, Craig Leeson diz que é necessário proibir os plásticos descartáveis. “Vivemos muito bem sem eles e temos alternativas”, considera. Quanto ao que cada um de nós poderá fazer, volta a aconselhar que encontremos alternativas a esse plástico e mudemos hábitos. “Cada um de nós é responsável, mas temos de pressionar os governos e fabricantes a aceitar que também são responsáveis”, acrescenta o também fundador da Plastic Oceans International, uma organização sem fins lucrativos que promove a consciencialização sobre o impacto da poluição do plástico.

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Plástico a flutuar no oceano DR

Questionado sobre se conhece a realidade portuguesa, Craig Leeson refere que a “reciclagem não funciona e nunca funcionará” e diz que Portugal deve simplesmente legislar para proibir plásticos descartáveis. “O Parlamento Europeu fê-lo no último ano e em 2021 implementará restrições nos plásticos descartáveis pela União Europeia”, relembra. “Portugal tem de apoiar e pressionar os fabricantes a mudarem para produtos alternativos e educar os consumidores a deixar os seus hábitos e a encontrar produtos alternativos.”

Como é um dos Parceiros de Sustentabilidade Global do BNP Paribas, Craig Leeson falará esta sexta-feira na conferência do BNP Paribas Portugal (só para convidados, nomeadamente para clientes, parceiros ou colaboradores) sobre a importância da biodiversidade para o planeta. “Irei encorajar jovens empresários, executivos, políticos e uma comunidade de líderes a considerar este importante facto: sem um ambiente saudável não há economia saudável”, refere sobre a sua participação, que será feita por via digital.

Craig Leeson acabou de terminar o seu próximo filme Os Últimos Glaciares, que se centra no desaparecimento dos glaciares causado pelas alterações climáticas e o que isso significa para os humanos. Agora, procura parceiros que apoiem a distribuição desse filme a nível global. Estes projectos têm-no mantido ocupado e não tem sido jornalista “no sentido tradicional”, como salienta. Até então, era correspondente internacional da cadeia televisiva Al Jazeera English, tendo feito também trabalhos para outros órgãos de comunicação social no passado.

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