Ventura dá orientações a eleitos do Chega nos Açores para chumbarem governo à direita e à esquerda

Ventura diz que negociações com o PSD “estão suspensas” e está disposto a ir a eleições na região autónoma.

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André Ventura está disposto a que haja novamente eleições nos Açores Nuno Ferreira Santos

O líder do Chega, André Ventura, anunciou que dará indicações aos seus dois deputados eleitos nos Açores para não viabilizarem uma solução de governo à direita nem à esquerda. André Ventura disse que as conversações com o PSD “estão suspensas desde ontem à noite” e desafia os restantes partidos a irem novamente a eleições.

“O Chega não estará disponível para nenhuma das soluções”, disse André Ventura aos jornalistas no Parlamento, justificando a decisão com a recusa do PSD em negociar propostas de revisão constitucional como a redução do número de deputados ou a reforma da justiça.

Rejeitando que o Chega seja “muleta” de outro partido, o líder da força política adiantou que teve conversas com o presidente da bancada parlamentar social-democrata mas não quis revelar quais são outros dirigentes sociais-democratas com quem terá tido contactos. “Tivermos conversações, no sentido de aproximação que pensámos que era frutuoso, e temos pontos de discordância, que Rui Rio não desmentirá”, disse apontando a redução do número de deputados e de beneficiários do Rendimento Social de Inserção nos Açores, bem como a criação de um gabinete regional contra a corrupção como condições que colocou em cima da mesa. “Ficaram ontem suspensas as negociações devido à não participação do PSD”, disse, mostrando-se disponível para as retomar na próxima segunda-feira. A direcção nacional do PSD tem mantido que não tem havido conversações com o Chega e que não irá apresentar nenhuma proposta de revisão constitucional. Questionada sobre essas conversações referidas por André Ventura, a direcção de Rui Rio declarou não ter informações sobre esses contactos. 

No Parlamento, André Ventura assumiu uma posição de intransigência. “Enquanto diabolizarem o Chega aceitem as consequências disto”, afirmou, argumentando que o seu partido é só um e não difere nas regiões: “O Chega não pode ser o diabo nacional, e valer nos Açores e não valer nada na Madeira”. André Ventura recusa ir a jogo sem qualquer contrapartida: “Habituem-se. Nós não somos o CDS”. 

Questionado sobre se a sua posição de chumbar as duas soluções de governo – uma que seria liderada pelo PS, outra pelo PSD – não levará a eleições antecipadas, André Ventura mostrou-se disponível para ir a votos. E desafiou: “Eu sei que eles [o PSD] estão a pensar ‘vão perder os deputados nos Açores’. Leiam os meios lábios: ‘arrisquem’. Vamos ver se corre bem ou mal. Se for preciso, agarro nas malas vou ser candidato para os Açores”.

André Ventura lembrou que quase elegeu o terceiro deputado na região autónoma no passado dia 25 e que uma nova eleição até lhe pode ser favorável, permitindo ter “três ou quatro” parlamentares. 

O PSD, o CDS e o PPM anunciaram um entendimento para uma solução de governo nos Açores, mas apenas têm 26 dos 29 deputados necessários para uma maioria absoluta, tendo necessidade de um apoio dos dois deputados do Chega e ainda de um terceiro, o do PAN ou o da IL, para que um programa de governo pudesse ser aprovado no Parlamento regional. Mas PAN também já anunciou que não apoiará uma coligação à direita. 

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