Secretário de Estado dos Transportes: A mobilidade também é sinónimo de liberdade

Paz, pão, habitação, saúde e educação – num congresso onde se discute a mobilidade sustentável, o secretário de Estado dos Transportes, Jorge Delgado, diz que esta é tão importante que hoje Sérgio Godinho escreveria que só há liberdade a sério se houver também mobilidade para todos os cidadãos.

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Jorge Delgado, secretário de Estado dos Transportes Rui Gaudencio

“Só é livre o cidadão a quem o Estado dá todas as condições para chegar ao trabalho a horas, para deixar os filhos na escola sem atrasos, para aceder a um hospital a tempo de receber os tratamentos adequados”, disse esta terça-feira Jorge Delgado, secretário de Estado dos Transportes, na abertura do congresso da ADFERSIT - Associação Para a Defesa dos Sistemas Integrados de Transportes, que está a ser emitido hoje e amanhã a partir da Gulbenkian, em Lisboa, e seguido online por mais de 200 inscritos.

O congresso tem por tema a mobilidade sustentável e por isso o governante fez questão de afirmar que “a mobilidade é também sinónimo de liberdade”. De tal forma, considera, que “se Sérgio Godinho tivesse escrito hoje a música ‘Liberdade’, onde ele diz ‘só há liberdade a sério quando houver/ a paz, o pão habitação/ saúde, educação’, hoje faria sentido acrescentar ‘mobilidade’”.

E para cumprir esse desígnio, Jorge Delgado tirou da cartola os dois documentos base com que o Governo pretende cumprir esse desígnio: o Programa de Recuperação e Resiliência e o PNI2030. Dois grandes planos, “que beneficiam da visão da professor Costa e Silva” e com os quais “o Estado deve dinamizar a economia através do investimento público”, disse.

Por isso, o sector dos transportes e mobilidade é responsável por 50% do total do investimento previsto no PNI 2030 (21,6 mil milhões de euros), sendo que a componente ferroviário consome a maior fatia que é de 10,5 mil milhões de euros.

Jorge Delgado recordou o compromisso de construir a linha de alta velocidade Lisboa – Porto para ligar as duas cidades em 1h15 “ou, noutra perspectiva, colocar Lisboa e Leiria ou o Porto e Coimbra a 30 minutos de distância”.

E como não vale a pena investir em linhas se não houver comboios, o governante recordou a aquisição de 129 comboios para a CP, num investimento que ronda os mil milhões de euros.

Para não descurar a coesão territorial, o secretário de Estado dos Transportes piscou o olho ao interior para referir que o acesso à mobilidade não se pode ficar só pelas grandes metrópoles. “Sabemos bem que muitas vezes tem mais dificuldade de mobilidade um cidadão que vive em Unhais da Serra ou em Ferreira do Alentejo do que aquele que está nos arredores das grandes cidades”, disse, acrescentando que “nas zonas rurais o problema não é o trânsito, mas a falta de transportes públicos”.

Se Jorge Delgado falou essencialmente da “mobilidade”, Costa e Silva acentuou o “sustentável”, complementando assim o tema do congresso – mobilidade sustentável – com um discurso onde dramatizou “a crise climática incontrolada” que se arrisca a provocar o caos total no planeta e a necessidade de tomar medidas para a evitar.

“Transformamos recursos em lixo a uma velocidade sem precedentes”, disse. “Consumimos hoje 618 vezes mais petróleo do que há 50 anos”, acrescentou, para sublinhar a importância da decisão do Governo em electrificar todas as linhas ferroviárias do país (um objectivo do PNI2030) no âmbito dos transportes sustentáveis.

Em sintonia com Carlos Moedas – que preside ao congresso e que no seu discurso referiu a necessidade de ideias disruptivas para encontrar soluções de futuro para a mobilidade – Costa e Silva mostrou-se também confiante na tecnologia para resolver os problemas do presente.

Para isso deu o exemplo do primeiro congresso de planeamento urbano ocorrido em Nova Iorque em 1896 onde se traçou um cenário apocalíptico do crescimento das cidades: a cidade americana tinha 300 mil cavalos, Londres tinha 100 mil e os problemas causados pelo estrume, a pestilência e as doenças poderiam fazer soçobrar as cidades. No entanto, o motor de combustão acabaria por resolver esse problema, com a introdução do automóvel, o qual se tornaria décadas depois um outro problema que o futuro agora se encarregará de resolver através de novas tecnologias.

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