A utopia da resistência no Porto/Post/Doc
Festival portuense anunciou programa da sétima edição, a decorrer de 20 a 29 de Novembro no Rivoli, no Passos Manuel e, pandemia oblige, também online.
É sob o signo da utopia e da resistência que vai desenrolar-se a edição 2020 do Porto/Post/Doc, a ter lugar entre 20 e 29 de Novembro, e apresentada esta manhã em conferência de imprensa. Sob o signo, primeiro, da American Utopia de David Byrne filmada por Spike Lee – registo em filme da temporada da Broadway do mais recente concerto do ex-líder dos Talking Heads que terá a sua estreia europeia na abertura oficial do festival na noite de 20 de Novembro (com repetição a 28) –, e sob o signo, depois, da resistência, da homenagem a “quem tem sofrido com a precariedade de trabalhar na cultura em Portugal”, nas palavras de Dario Oliveira. Não obstante as necessárias limitações do momento que vivemos, o responsável pelo festival acredita que ir ao cinema é “um acto de participação cívica, uma maneira de marcar presença na vida da cidade e do Norte do país”, frisou. “Sem o Porto/Post/Doc, a cidade e os espectadores seriam muito menos felizes”, corroborou Guilherme Blanc, o director para as áreas do cinema e da arte contemporânea da empresa municipal Ágora Porto.
Não deixa de ser também uma “utopia” fazer um festival de cinema no momento em que vivemos. A organização do Porto/Post/Doc foi obrigada a reconfigurar esta sétima edição, levando em conta as contingências impostas pela pandemia de covid-19, antecipando por exemplo os horários das sessões. Mantendo o Teatro Municipal Rivoli e o Passos Manuel como pontos centrais, com extensões ao Planetário do Porto e aos espaços da Reitoria da Universidade do Porto e da Escola das Artes da Universidade Católica, o festival estará também online, disponibilizando em streaming de 21 de Novembro a 13 de Dezembro grande parte do programa, “como complemento às salas”, a preços que a organização procurou serem o mais acessíveis possível.
Utopias
Em destaque no Porto/Post/Doc online estarão os títulos seleccionados para as quatro competições: as habituais Internacional (cujo Grande Prémio se passará a chamar Prémio Vicente Pinto Abreu em homenagem ao colaborador do festival desaparecido este ano) e Cinema Novo (obras escolares), mais as novidades Transmission (filmes sobre música) e Cinema Falado (“histórias” contadas em português), até aqui não competitivas. Por esta última passarão oito filmes: as longas Ar Condicionado, do angolano Fradique, Êxtase, da brasileira Moara Passioni (produzida por Petra Costa), Fantasmas do Império, de Ariel de Bigault, Guerra, de José Oliveira e Marta Ramos, e SOA, de Raquel Castro; e as curtas Noite Perpétua, de Pedro Peralta, A Dança do Cipreste, de Mariana Caló e Francisco Queimadela, e O Que Não se Vê, de Paulo Abreu. Fora de concurso, a mesma secção mostrará O Movimento das Coisas, a obra única de Manuela Serra, agora restaurada e recentemente estreada no Festival Lumière.
Na Competição Internacional, encontramos um título português, A Nossa Terra, o Nosso Altar, de André Guiomar, sobre o desaparecimento do Bairro do Aleixo, a par de Amor Omnia de Yohei Yamakado, Days of Cannibalism de Teboho Edkins, Goodbye Mister Wong de Kiyé Simon Luang, My Mexican Bretzel de Muria Giménez, Of Land and Bread de Ehab Tarabieh, Partida de Caco Ciocler, Piedra Sola de Alejandro Telémaco Tarraf, e Sandlines, the Story of History de Francis Alys.
A utopia regressa num outro bloco de programação, A Cidade do Depois: uma escolha de meio século de cinema sobre e do urbano, que passa pelo imortal La Jetée de Chris Marker, Millennium Mambo de Hou Hsiao-Hsien, Juventude em Marcha de Pedro Costa e dois filmes centrais do cinema negro norte-americano, Bless Their Little Hearts de Billy Woodberry e Killer of Sheep de Charles Burnett. Nas conferências do Forum do Real, que decorrerão exclusivamente online nos dias 25, 26 e 27, participarão entre outros a historiadora Pascale Cassagnau, a programadora Maria João Madeira, a filósofa Marie-José Mondzain, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, o cineasta João Salaviza ou o crítico Roger Koza, para discutir o modo como a cidade mudou ao longo dos anos, e como o cinema se encarregou igualmente de mudar as suas representações.
Do programa consta ainda uma “carta branca” ao cineasta galego Eloy Domínguez Serén (cujo Hamada esteve a concurso em 2018), composta por três clássicos suecos sobre a infância e a adolescência – os documentários The Great Adventure de Arne Sucksdorff e They Call Us Misfits de Stefan Jarl e Jan Lindkvist, e a ficção A Swedish Love Story de Roy Andersson, que estarão também online – e o tradicional olhar para o cinema de Espanha, a Cinefiesta, onde veremos entre outros Lúa Vermella de Lois Patiño e Work, or to Whom Does the World Belong de Elisa Cepedal (vindo do Doclisboa).
O encerramento oficial far-se-á no sábado, 28, com MLK/FBI, documentário de Sam Pollard sobre a perseguição da agência federal ao reverendo Martin Luther King. Os programas e horários podem já ser consultados no site oficial www.portopostdoc.com, e nas redes sociais do festival, onde irão igualmente ser anunciadas quaisquer alterações.