Primeiro suspeito do assalto a Tancos em tribunal: “Nunca lá estive”

“Pisca” já tinha admitido participação no roubo de material militar, mas agora negou tudo.

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Os advogados do caso Tancos à saída para almoço no Tribunal de Santarém Daniel Rocha

O primeiro suspeito do assalto a Tancos a ser interrogado no arranque do julgamento, Valter Abreu, negou esta segunda-feira ter estado nas instalações militares. “É tudo mentira. A primeira vez que estive em Tancos foi com a Polícia Judiciária”, declarou, em clara contradição com aquilo que tinha assumido numa fase anterior do processo.

Interrogado sobre como foi então possível ter fornecido tantos detalhes às autoridades sobre a forma como tudo se passou na noite de 27 para 28 de Junho de 2017, como, por exemplo terem coberto o rosto com gorros ou ter sido ele próprio a cortar, com um alicate, a vedação para se poderem introduzir no perímetro militar, o arguido respondeu que foi convencido a inventar isto tudo pelo seu anterior advogado. “Na altura, eu não me encontrava bem psicologicamente. Estava a viver dentro de um carro e não tinha consciência do que dizia”, alegou “Pisca”, como também é conhecido. 

Anteriormente, Valter Abreu tinha contado às autoridades que, como tinha contraído uma dívida de mil euros relacionada com tráfico de droga para com aquele que se viria a tornar o mentor do assalto, João Paulino, tinha resolvido passar-lhe informação sobre as fragilidades de segurança dos paióis, para o compensar de alguma forma. Quem lhe tinha confidenciado estes problemas tinha sido um sobrinho seu que lá trabalhava como furriel. 

“‘Fazer’ os paióis”

Conhecendo o interesse do antigo fuzileiro por material militar, achou que podia convencê-lo a perdoar-lhe a dívida em troca destas informações e ainda ganhar algum dinheiro extra. Não se enganou, explica o Ministério Público na acusação: “Face a essa informação, João Paulino entregou-lhe mais haxixe para venda, à consignação. E disse-lhe que queria ‘fazer’ os paióis”, conta o Ministério Público na acusação. Depois de ter confessado a sua participação no assalto, “Pisca” vem agora negar tudo. 

Depois de várias visitas de reconhecimento ao local, na noite de 27 para 28 de Junho de 2017, João Paulino e os seus cúmplices introduziram-se no recinto e, com a ajuda de carrinhos de mão, furtaram o material de guerra, composto sobretudo por munições e explosivos. Todos os arguidos desligaram os telemóveis nessa noite, para não serem localizados pelas antenas de telecomunicações da zona. Entre Ansião, onde se reuniram, e Tancos andaram apenas por estradas nacionais, razão pela qual a passagem dos veículos em que se deslocaram – a carrinha e ainda um automóvel ligeiro – não ficou registada nas portagens.

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