Mais de um quarto dos portugueses diz que aumentou de peso por causa da pandemia

Oito por cento dos inquiridos num estudo da Direcção-Geral da Saúde afirma que teve dificuldades económicas para comprar alimentos.

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ricardo campos

Mais de 40 por cento dos portugueses diz que mudou os seus hábitos alimentares para pior por causa da pandemia, mais de um quarto afirma ter aumentado de peso e oito por cento revela que teve mesmo dificuldades económicas para comprar alimentos. São resultados de um inquérito de âmbito nacional feito pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e que indica que, apesar de a maior parte das pessoas ter começado a cozinhar com maior frequência, também passou a consumir mais snacks doces e petiscos.

A covid-19 contribuiu para uma alteração nos hábitos alimentares de uma parte significativa da população, com quase metade dos 5874 indivíduos inquiridos entre 9 de Abril e 4 de Maio a admitir que mudou os hábitos alimentares durante este período e 41,8% a sustentar que mudou para pior. Estes valores “merecem uma análise aprofundada”, enfatiza a DGS com base nos resultados deste inquérito que são destacados no relatório anual do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da Direcção-Geral da Saúde, este sábado divulgado.

O facto de terem começado a petiscar mais, associado ao sedentarismo, “pode explicar a percepção de peso aumentado durante este período" que foi reportada por 26,4% dos inquiridos. As alterações dos hábitos alimentares ficaram a dever-se essencialmente às mudanças dos horários de trabalho, às dificuldades que as pessoas relataram para encontrar o que habitualmente costumavam comprar, ao stress, às modificações no apetite e ao receio motivado pela situação económica.

A maior parte dos inquiridos acredita, porém, que mudou a sua dieta para melhor neste período, por ter começado a consumir mais frutas, mais produtos hortícolas e menos refeições pré-preparadas e take-away.

Segundo o estudo Global Burden of Diseaseo elevado consumo de carne vermelha e sal e poucos cereais integrais são alguns dos maus hábitos alimentares em Portugal, o que é preocupante quando se sabe que estes hábitos constituem o quarto factor de risco para a mortalidade e o quinto para a perda de anos de vida saudável.

“Estes resultados reforçam aquilo que temos vindo a defender: é preciso mais ritmo e mais intensidade por parte do Governo para a alteração dos hábitos alimentares nacionais que, como vemos, são responsáveis por grande parte das doenças que assolam a vidas dos portugueses”, comentou à Lusa a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento. Estas doenças “são, inclusive, factores de risco para a covid-19 e não podem, em momento algum e perante esta crise pandémica, ser secundarizadas”, avisou.

No relatório da DGS é ainda destacada a publicidade a alimentos. Cerca de 10,4% dos anúncios nos canais de TV generalistas são relativos a alimentos e, destes, a maior parte (65,6%) não cumpre o perfil nutricional definido pela DGS. Além disso, apesar da proibição, 18,6% dos anúncios a alimentos ainda apresentam conteúdo dirigido a crianças.

Comparando estes resultados com os de outros países, verifica-se, mesmo assim, que em Portugal há uma menor percentagem de publicidade a alimentos na TV, tendo-se verificado uma diminuição comparativamente com o ano de 2008.

com Lusa

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