Ilustração
“António Variações era cor num Portugal cinzento” — e este livro mostra-o
Da "aventura dos sentidos" visuais surgiu uma biografia ilustrada de António Variações, lançada em Setembro pela Suma de Letras. São 152 páginas de um livro que conta a história de António Joaquim Rodrigues Ribeiro, um homem da aldeia que partiu para Lisboa em busca de um sonho. "Variações fez-se sozinho", deu e recebeu, e marcou Portugal no início dos anos 80, escreve a editora, num comunicado enviado ao P3. Foram 39 anos da vida de um homem sonhador, "exuberante e colorido" que, agora, ficam eternizados nas palavras de Bruno Horta e nas ilustrações de Helena Soares.
"António Variações era cor num Portugal cinzento", afirma a ilustradora ao P3. Assim, partindo desta premissa, Helena Soares decidiu dividir a narrativa visual em três fases, como se repara ao "folhear" esta fotogaleria: uma primeira marcada por tons pastel que retrata a aldeia e as origens; uma segunda que, através de cores escuras, assinala o ponto de viragem na vida do cantor; e uma terceira, em vibrantes tons de rosa, azul e amarelo, como reflexo da cultura pop da época e da carreira de António Variações.
Foi de música em música que se construiu a narrativa sobre o artista português. Estou Além é a canção que marca o primeiro capítulo deste livro. A pedido da editora, o jornalista Bruno Horta procurou escrever um texto baseado nas cantigas de António Variações, até porque tanto o autor como a ilustradora entendem as letras do artista como autobiográficas.
A história do artista português não foi uma novidade para Bruno Horta, que ao longo da sua carreira tem escrito artigos sobre o ícone da música portuguesa, o que lhe permitiu conhecer familiares e amigos do artista. Questionado quanto ao que António Variações, uma biografia traz de novo, o autor explica que é o facto de esta ser "uma interpretação dos factos e da história do Variações". O livro surge, para os criadores, como uma canção, onde Bruno escreveu a letra e Helena a melodia.
A escrita informativa de Bruno, vista pelo mesmo como "defeito de profissão", é complementada pelas "ilustrações emotivas" da ilustradora, aponta o jornalista. Esta segunda camada "é mais do que um embrulho, é um conteúdo que corre em paralelo e engrandece o texto", explica.
Ao longo do livro, que já está à venda nas livrarias de todo o país, símbolos como a tesoura, as estrelas e as flores vão sendo transversais às diversas etapas retratadas. Helena Soares justifica esta escolha como "um reflexo do Variações": "As estrelas representam o sonho, a tesoura simboliza a profissão e as flores a nostalgia das origens e do passado." Já conhecedora do trabalho do cantor, Helena reconhece que com este projecto descobriu uma nova versão. "Conhecia-o mais como artista e agora conheço-o mais como homem", conclui.
Texto editado por Amanda Ribeiro