De novo fechados em casa? O Inverno aumenta o risco de depressão, mas podemos combatê-lo

A depressão sazonal ocorre quando o tempo arrefece, há menos luz solar e é mais difícil sair. Os especialistas em saúde mental estão preocupados: mais pessoas vão ter sintomas depressivos sazonais neste Inverno.

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Lindsey Hornickel, de 25 anos, de Louisville, nos Estados Unidos, sentia-se bem no início da pandemia de covid-19. Apesar de já ter passado por uma depressão anteriormente, o seu estado mental não se agravou logo, pois começou a assumir mais trabalho e a afastar as preocupações da mente, conta.

“Eu estava sempre a dizer: ‘Está tudo bem, está tudo bem'”, relata. Até que, de repente, não estava. Durante o Verão, a sua saúde mental foi abalada. “Passei por oscilações depressivas. Foi insuportável”, diz. Lindsey Hornickel acabou por admitir à colega de casa que queria morrer.

Desde então, Hornickel tem estado num programa de hospitalização parcial para tratar a intenção suicida, depressão e distúrbio bipolar, e reconhece que a reacção inicial à quarentena foi um episódio maníaco. Embora esteja muito melhor, há uma preocupação que a incomoda: o Inverno. “Para mim, a noite é realmente difícil”, diz. “Quando não há luz solar nem coisas para fazer — nessa altura do Inverno —, esses sentimentos agravam-se.”

O que Lindsey Hornickel descreve é a depressão sazonal, conhecida como desordem afectiva sazonal. É um tipo de depressão que ocorre quando fica mais frio, há menos luz e é mais difícil sair de casa. Os especialistas em saúde mental estão preocupados porque a pandemia já desencadeou sintomas depressivos em muitos norte-americanos — e mais pessoas vão ter sintomas depressivos sazonais neste Inverno.

Uma explosão de sintomas depressivos

Uma investigação publicada no Journal of the American Medical Association em Setembro concluiu que três vezes mais adultos americanos estavam com níveis elevados de sintomas depressivos durante a pandemia do que antes. Um inquérito conduzido pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) em Junho chegou a resultados semelhantes, com mais adultos americanos a relatarem sintomas de saúde mental negativos, particularmente jovens adultos, minorias raciais e étnicas e trabalhadores essenciais. Por outro lado, um inquérito feito aos adolescentes americanos entre Maio e Julho revelou que estes se saíram bem no que diz respeito à depressão e solidão.

A Associação de Psicologia Americana observou um forte crescimento da intenção suicida, particularmente entre os jovens adultos durante a pandemia, de acordo com Vaile Wright, director de inovação na área da saúde. “Penso que se deve, em grande parte, ao nível de incerteza à volta do covid-19”, afirma. Apesar de a maioria dos desastres ter um princípio, meio e fim, a pandemia de covid-19 tem continuado sem fim à vista.

O Verão ofereceu um pouco de descanso. Como socializar ao ar livre é mais seguro, “as pessoas confiaram na oportunidade de tirar partido do bom tempo”, diz Wright. Porém, os próximos meses de Inverno vão, provavelmente, complicar a forma como as pessoas passam pela depressão, quer sofram ou não de depressão afectiva sazonal, indicam os especialistas.

Apesar de apenas uma pequena percentagem de pessoas habitualmente relatar depressão sazonal (a maioria das estimativas indica que 6% da população dos EUA tem sintomas graves e 14% sintomas ligeiros), Wright refere que não ficaria surpreendida caso houvesse outro aumento dos sintomas depressivos entre a população em geral, uma vez que o clima frio piora o isolamento social.

Lisa Carlson, presidente da Associação Americana de Saúde Pública, concorda. Segundo Carlson, a depressão sazonal é mais comum em pessoas que têm um historial de depressão. “As pessoas que estão em risco de desordem afectiva sazonal podem ser as mesmas para quem a covid-19 já desencadeou a depressão, (…) portanto, podemos ter muitas sobreposições nessas pessoas”, diz. Carlson explica ainda que a depressão sazonal e a depressão clínica apresentam sintomas semelhantes, incluindo a abstinência social e o aumento de peso, o que pode tornar difícil para os doentes distinguir entre as duas.

Independentemente disso, os especialistas concordam: agora é o momento para as pessoas que receiam ter sintomas de depressão, ou cuja depressão se possa agravar durante o Inverno, fazerem um plano. É uma altura crucial porque a investigação descobriu que a transição da hora de Verão para a hora de Inverno — que, nos Estados Unidos, acontece a 1 de Novembro — foi associada a um aumento dos episódios depressivos.

Aqui estão cinco dicas, tanto dos peritos como de pessoas que já passaram por depressão e depressão sazonal:

1. Prepara coisas que podem ajudar

Joshua Gordon, director do Instituto Nacional de Saúde Mental, diz: “Se sabes que agora estás bem, mas que o Inverno pode ser mais difícil, prepara o teu trabalho.” A preparação poderá incluir um fornecimento constante de medicamentos, no caso de se viver um novo confinamento, ter um terapeuta marcado e agendar chamadas semanais com os entes queridos. Se o exercício ajudar, podes elaborar um plano para o fazer em casa, em segurança, durante o Inverno. Mark Riechers, um produtor de rádio de 34 anos com uma paixão pelo ciclismo, diz que este desporto pode dar estrutura e normalidade.

2. Conhece os seus gatilhos

Está atento ao que pode desencadear um episódio depressivo. Lindsey Hornickel diz que reconhecer os seus gatilhos ajuda-a a saber quando é altura de procurar mais ajuda; para ela, é quando cuida menos da sua higiene pessoal, incluindo não escovar os dentes.

Hornickel recomenda que se escreva com antecedência os sinais de aviso de quando a depressão pode estar a intensificar-se, como quando deixas de tomar conta de ti ou da casa.

3. Arranja uma lâmpada que imita a luz exterior

Ken Duckworth, médico-chefe da National Alliance on Mental Illness, diz que as pessoas com desordem afectiva sazonal devem usar uma lâmpada destas durante algumas horas da manhã no Inverno. Vaile Wright concorda, mas explica que, não conseguindo uma, se deve planear o dia maximizando a luz solar: fazer recados durante as horas de dia ou passar dez minutos a beber café junto à janela. Emily Pfenning, 26 anos, de Portland, que já teve depressão clínica e sazonal, usa uma lâmpada deste tipo regularmente porque vive numa área com menos luz solar e tem medo de sair por falta de uso de máscara na sua zona.

4. Continua ligado

Wright esclarece que o instinto de algumas pessoas com sintomas depressivos pode ser o de se isolarem, mas deve-se lutar contra esse impulso, especialmente agora, quando é ainda mais fácil fazê-lo. “Mesmo durante os meses mais sombrios, sabemos que a ligação humana é realmente crítica para gerir a nossa ansiedade e depressão”, diz. Portanto, talvez seja altura de voltar ao Zoom ou outras formas online de ligação com as pessoas — populares no início da pandemia, mas abandonadas por alguns devido ao cansaço.

É também importante alargar a rede de apoio além dos familiares. “Alcança as pessoas à tua volta, encontra comunidades online, apenas para saber que não estás sozinho”, diz Pfenning.

Joshua Gordon explica que falar com alguém sobre os seus sentimentos pode ajudar a avaliar se estás apenas a sentir-te mal ou se há algo mais sério a acontecer. “Falar com alguém ajuda realmente.”

5. Aproveita a terapia online

Barb Foy, 58 anos, assistente social reformada e activista da saúde mental no Norte da Califórnia, consulta uma terapeuta duas vezes por mês para tratar a sua depressão clínica, mas, para o fazer com segurança, falam através de videochamadas. É uma das ferramentas que usa para se preparar para o Inverno e para se manter fora do que descreve ser um buraco negro.

A telessaúde está a revolucionar os cuidados de saúde mental e a torná-los mais acessíveis, indica Lisa Carlson. Também poderá tornar a terapia menos assustadora para novos pacientes, pois pode ser acedida a partir de casa.

A preparação de mecanismos de resposta como este fará mais do que ajudar a mitigar a depressão; tornará as pessoas mais preparadas para lidar com novas crises, diz Gordon. “Embora a pandemia seja um desafio para todos nós”, diz ele, “é também uma oportunidade para construir resiliência”.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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