Federação dos médicos e técnicos de radiologia preocupados com falta de meios no SNS
Marcelo Rebelo de Sousa continua a receber entidades representativas do sector da Saúde para fazer um retrato abrangente do estado da pandemia em Portugal. Na tarde deste domingo recebeu a Federação Nacional dos Médicos e a Associação Portuguesa dos Técnicos de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear.
O presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Noel Carrilho, demonstrou hoje preocupação pela falta de meios no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que considera não conseguir responder ao “maior desafio que já viveu”. “Desde o início da pandemia, há menos médicos do SNS em Portugal”, afirmou, acrescentando: “É esta a realidade que viemos trazer ao senhor Presidente da República, a de preocupação com a falta de meios. É impossível o SNS responder ao que talvez seja o maior desafio que já viveu”, afirmou, à saída da audiência com o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, no palácio de Belém, para analisar a actual situação pandémica no país.
Noel Carrilho lamentou não ter havido “uma preparação adequada” durante o período de maior acalmia do surto, no Verão, e não ter sido “aproveitado o conhecimento de quem está no terreno” durante vários meses. “Vimo-nos obrigados a mostrar a nossa preocupação com a evolução da pandemia e também a situação do SNS, quer em termos de covid-19, quer em termos de assistência a doentes não covid-19. Não havendo uma preparação adequada, vemo-nos agora confrontados com uma situação muito difícil para os profissionais de saúde e, principalmente, para os doentes”, disse.
Um possível confinamento “não irá condicionar de forma significativa a capacidade do SNS”, que considera ser já “deficitária”, o que “terá consequências no futuro, em termos de mortalidade”. “Há portugueses que vão morrer por esta falta de preparação e nós estamos, acima de tudo, preocupados com isso”, vincou.
Técnicos de radiologia e radioterapia dizem precisar de mais equipamento e pessoal
A Associação Portuguesa dos Técnicos de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear (ATARP) também defendeu perante Marcelo Rebelo de Sousa a necessidade de reforço da “capacidade humana e técnica” deste grupo profissional. “A pandemia ocupa um grande lugar de destaque no trabalho dos profissionais e nas equipas multidisciplinares. Será necessário reforçar a capacidade humana e técnica, nomeadamente ao nível de equipamentos”, observou o presidente da associação, Altino Cunha, no final da audiência com o Presidente da República.
Esse reforço “deverá passar, numa primeira fase, por uma optimização e rentabilização da capacidade instalada”, de forma a “fazer face às necessidades dos doentes na condição covid-19 e não covid-19”, considerou Altino Cunha, que manifestou na audiência a disponibilidade dos técnicos de radiologia, radioterapia e medicina nuclear no combate à pandemia. “Não podemos, neste momento, virar as costas ao Serviço Nacional de Saúde”, afirmou, lembrando também a importância de “uma actualização da legislação que regula as competências destes profissionais, que data de 1993 e que não se coaduna com a evolução tecnológica e clínica” na área da saúde.
Altino Cunha destacou o esforço do Governo na “instalação e modernização do parque tecnológico”, mas ressalvou que “mais se deverá e poderá fazer”, entendendo que uma estratégia de rentabilização é “um bom ponto de partida”. “As equipas devem ser reforçadas de modo a que os tempos de espera, já muito grandes em época pré-covid-19 e que, com a pandemia, se agravaram, sejam repostos para tempos que consideramos clinicamente aceitáveis”, concluiu.
Depois das audiências do fim-de-semana, o Presidente da República recebe na tarde de segunda-feira os antigos ministros da Saúde Luís Filipe Pereira, Ana Jorge e Fernando Leal da Costa. Na passada sexta-feira estiveram em Belém os também antigos governantes Maria de Belém Roseira e António Correia de Campos.
Em Portugal, morreram 2.316 pessoas dos 118.686 casos de infecção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direcção-Geral da Saúde.