Da libelinha à Via Láctea, a diversidade do Gerês-Xurés cabe numa exposição
A água, a fauna e a flora e as acções humanas são outras dimensões retratadas nas 50 imagens que compõem a exposição Gerês-Xurés em fotografia, patente na Universidade do Porto. A mostra resulta de um concurso promovido no âmbito do projecto Gerês-Xurés Dinâmico.
Uma objectiva pode enquadrar os fragmentos do Universo que pontilham o céu nocturno ou focar-se nos mais ínfimos seres que habitam a Terra. Pode ainda testemunhar o quotidiano de uma pessoa ou de uma comunidade. E essas dimensões podem coexistir numa exposição de fotografia, como aquela que retrata a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés, inaugurada nesta sexta-feira. Patente na Galeria da Biodiversidade da Universidade do Porto, a mostra é o desenlace de um concurso lançado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), com curadoria da galeria Mira Fórum.
Responsável pela galeria e curadora da exposição, a par de João Lafuente, Manuela Matos Monteiro confessa ao PÚBLICO ter sido “muito difícil” escolher 50 fotografias entre as mais de mil enviadas, de ambos os lados da fronteira luso-espanhola, não só pela qualidade, mas também pela “diversidade enorme de olhares”. “Temos desde a Via Láctea até à libelinha, passando pelos seres humanos, por outros animais, pelas veredas, pela água. Temos ali um Gerês complexo e multifacetado”, salienta.
Lutar pela preservação do parque
Entre as 50 imagens exibidas, há uma que se assume como vencedora do concurso, da autoria de Diogo Ferreira: é uma perspectiva de cima sobre uma lagoa cercada de afloramentos graníticos, com um homem a boiar. Habituada a organizar o Mira Mobile Prize, concurso de fotografia a preto e branco, Manuela Matos Monteiro sugere que a diversidade inerente à fotografia pesou na decisão do júri, representado por cinco entidades: CCDR-N, Adere Peneda-Gerês, Agência de Turismo da Galiza, Universidade do Porto e galeria Mira Fórum. “Aquela lagoa, com aquelas cores e aquela envolvente geológica, é única e tem um elemento humano. É uma jóia do Gerês”, resume.
As fotografias não identificam o município da Reserva da Biosfera Gerês-Xurés onde foram captadas. A exposição, diz Manuela, é “um registo de amor” de fotógrafos profissionais e amadores, em que não interessa localidade ou dispositivo utilizado, mas a “qualidade da imagem e o que ela significa e transmite”. “Consigo reconhecer a Mata da Albergaria e os espigueiros do Soajo, mas a riqueza disto é a ideia de não haver fronteiras, nem localidades. A natureza está em contínuo”, realça.
O concurso de fotografia consta do Gerês-Xurés Dinâmico, um projecto integrado no plano de acção 2015-2020 para a reserva da biosfera, assim classificada pela UNESCO desde 2009. Manuela Matos Monteiro considera difícil encontrar uma “melhor forma de se divulgar” aquele território. A seu ver, as fotografias podem incentivar quem as olha não só a visitar a Reserva Gerês-Xurés, como a “lutar pela sua preservação”.
Projecto valoriza memória e turismo
A exposição instalada no Porto é itinerante, mas não se sabe ainda que locais vai percorrer, nem quando. Tirando, claro, o PNPG. A data prevista para levar a exposição ao parque é Maio, mês em que se assinalam os 50 anos do decreto-lei que o criou, mas “ainda não se sabe a data, por causa da pandemia. Era suposto passar pelo [Centro de Interpretação Ambiental do] Vidoeiro”, refere ao PÚBLICO Sónia Almeida, administradora delegada da Adere Peneda-Gerês, uma das 13 entidades envolvidas no projecto Gerês-Xurés Dinâmico.
Financiado em quase dois milhões de euros pelo Programa Operacional Interreg V-A Espanha-Portugal, o projecto já cumpriu o principal objectivo, apesar de só terminar em Dezembro próximo, vinca a responsável. “O território é mais homogéneo do que há dez anos. As pessoas já procuram a reserva da biosfera no seu todo e não só num lado ou no outro da fronteira”.
Além da aposta na comunicação, que abrange o concurso de fotografia e uma “sinalética uniforme” de promoção dos municípios portugueses e galegos, o Gerês-Xurés Dinâmico desenvolveu acções de inventariação geológica e de preservação da fauna – criação de cercado para cabras selvagens, por exemplo –, de promoção de produtos agro-alimentares e de valorização das rotas transfronteiriças – o lado galego passou a ter 100 quilómetros de trilhos que se juntam aos 200 do lado português.
A preservação da memória foi outro desígnio. “Entrevistámos 50 pessoas já idosas em Portugal, para contarem as histórias das actividades agrícolas e pecuárias, as idas para o monte com as cabras e os episódios com os lobos”, explica Sónia Almeida.