Musaranhos da cidade são mais ousados do que os do campo
Estudo de equipa luso-polaca quis perceber como os musaranhos se adaptam tão depressa a ambientes novos, como os das cidades, para prever melhor o ritmo da sua expansão.
Os musaranhos da cidade são mais ousados do que os musaranhos do campo, concluíram cientistas portugueses e polacos que investigaram o comportamento destes roedores, comparando os que vivem em Lisboa e os que vivem no Parque Natural de Sintra/Cascais.
Durante a investigação, que começou em 2018, os cientistas testaram a personalidade dos Crocidura russula e verificaram que os que vivem na cidade “adoptam comportamentos mais ousados e estão também mais predispostos a explorar um ambiente que lhes é estranho”, segundo o investigado Flávio Gomes Oliveira. Isso deve-se à falta de vegetação e aos “constantes estímulos externos” que viver na cidade acarreta, considera o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
“Ruído e luz artificial levam a que os animais que aqui vivem se tornem mais arrojados na procura de comida e de locais onde possam habitar”, acrescenta o investigador num comunicado da sua universidade. Além de investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, participaram ainda no estudo cientistas da Universidade Adam Mickiewicz, da cidade polaca de Poznan.
Os musaranhos são mamíferos que comem insectos e são esquivos, mas em algumas áreas, como a Irlanda, são considerados uma espécie invasiva, pelo que “é relevante compreender como se adapta tão rapidamente a ambientes novos para prever melhor o ritmo da sua expansão”, referiu Flávio Oliveira.
Outra das investigadoras responsáveis pelo estudo, Maria da Luz Mathias, apontou que o musaranho-de-dentes-brancos é um bom modelo para “compreender o destino das espécies perante uma alteração global como a crescente urbanização”.
Publicado na edição de Outubro da revista científica Behavioral Ecology, o estudo debruçou-se ainda sobre o metabolismo dos musaranhos e revelou uma tendência que é diferente da que se verifica na maioria dos animais. Os musaranhos com um metabolismo mais rápido “são mais tímidos e exploram menos território, enquanto animais com um metabolismo mais lento são mais ousados e exploram mais território”, um mecanismo que ainda não é bem compreendido e que significa que o seu “saldo energético se mantém relativamente constante”.