EUA e Rússia aproximam posições sobre prolongamento de acordo nuclear
Moscovo defende que o New START seja renovado por um ano na condição de Washington também se comprometer a congelar as suas ogivas nucleares. EUA disponíveis para se sentarem “imediatamente” à mesa das negociações e para chegarem a acordo antes das presidenciais.
Estados Unidos e Rússia estão cada vez mais próximos de chegar a um acordo sobre o controlo de armas nucleares, depois de Washington ter visto com bons olhos a proposta de Moscovo para prolongar, durante um ano, o tratado New START, que expira em Fevereiro de 2021.
A proposta partiu do Kremlin, que se comprometeu a congelar as suas ogivas nucleares, caso o Governo norte-americano faça o mesmo.
De acordo com um comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo nesta terça-feira, a proposta em cima da mesa só pode ser implementada “estrita e exclusivamente caso haja o entendimento de que o congelamento das ogivas não será acompanhado por nenhuma exigência adicional por parte dos Estados Unidos”.
Em resposta, o Departamento de Estado norte-americano manifestou receptividade imediata para chegar a uma posição comum.
“Apreciamos a disponibilidade da Federação Russa para fazer progressos na questão do controlo de armas nucleares. Os Estados Unidos estão preparados para se reunirem imediatamente para finalizar o acordo verificável. Esperamos que a Rússia exorte os seus diplomatas a fazerem o mesmo”, lê-se no comunicado emitido pelo porta-voz Morgan Ortagus.
No centro das negociações entre Washington e Moscovo está o tratado New START, assinado em 2010 por Barack Obama e Dmitri Medvedev – chefes de Estado dos Estados Unidos e da Rússia na altura –, que limita o arsenal nuclear das duas maiores potências que, juntas, têm 90% de todas as armas nucleares do mundo.
A 5 de Fevereiro do próximo ano, poucos dias depois da tomada de posse (20 de Janeiro) do próximo Presidente norte-americano, a validade do tratado chega ao fim, e o impasse dos últimos meses tem gerado receios quanto à sua continuidade, temendo-se uma nova corrida ao armamento por parte das duas potências, depois de os dois países terem abandonado o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF, na sigla em inglês), assinado por Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov em 1987.
Na sexta-feira passada, o Presidente russo, Vladmir Putin, apresentou uma proposta de extensão de um ano do New START, não se comprometendo com qualquer congelamento de ogivas nucleares, tendo recebido uma resposta negativa dos Estados Unidos – o conselheiro de Segurança Nacional, Robert O'Brien, pediu à Rússia para “reavaliar a sua posição”.
Dias antes, o diferendo entre Washington e Moscovo já se tinha acentuado, depois de o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Ryabkov, ter desmentido o “acordo de princípio” anunciado pelo enviado especial norte-americano para as negociações sobre o nuclear, Marshall Billingslea.
Nesse acordo, Billingslea afirmava que a Rússia iria congelar as suas ogivas nucleares, sem contrapartidas, o que levou Ryabkov a falar numa “ilusão” e numa “fraude”.
Ao admitir, agora, a possibilidade de congelar o seu armamento nuclear – na condição de que os Estados Unidos façam o mesmo, o que não é certo –, a Rússia parece disposta a desbloquear um acordo, possivelmente antes das presidenciais norte-americanas de 3 de Novembro, o que pode dar um trunfo diplomático a Donald Trump, atrás de Joe Biden nas sondagens, a apenas duas semanas das eleições.
Donald Trump tem exigido que a China também seja incluída em acordos futuros, algo que tem sido rejeitado por Pequim. Com as eleições à porta, no entanto, o Presidente norte-americano pode deixar cair esta exigência e, segundo a CNN, tem aumentado a pressão no interior Administração Trump para que o acordo com a Rússia seja anunciado nos próximos dias.
Conforme nota o The Washington Post, tanto Vlamidir Putin como o candidato do Partido Democrata às presidenciais, Joe Biden, já demonstraram disponibilidade para prolongar o New START por mais cinco anos.
O Presidente russo, numa entrevista no início do mês, afirmou que a disponibilidade de Biden “é um sinal sério quanto às nossas possíveis interacções futuras”.