Arménia e Azerbaijão mostram “desrespeito chocante pela vida e pelas leis da guerra”, denuncia Amnistia
Os dois países enfrentam-se no mais grave reacendimento do conflito que os opõe desde a independência, a disputa pelo território arménio de Nagorno-Karabakh, situado dentro das fronteiras azerbaijanas.
Peritos da equipa de resposta de crise da Amnistia Internacional analisaram as provas disponíveis e concluíram que tanto a Arménia como o Azerbaijão estão a usar armas pesadas de grande alcance em zonas residenciais densamente povoadas, “no que parece ser uma violação da lei humanitária internacional”. A organização não-governamental acredita que mísseis balísticos e salvas de rockets conhecidos pela sua falta de precisão estão por trás das mortes de civis dos últimos dias na região.
“As provas do uso de mísseis balísticos e de outras armas explosivas em amplas áreas de bairros civis contam a história de um desrespeito chocante pela vida e pelas leis da guerra”, diz Denis Krivosheev, responsável da Amnistia para Europa de Leste e a Ásia Central. Os civis dos territórios envolvidos no conflito “continuam a ser mortos, feridos e deixados sem casa com ataques imprudentes que arruínam vidas e reduzem casas a entulho”, acrescenta o activista, citado num comunicado da ONG divulgado na tarde desta terça-feira.
Segundo a organização internacional, foi isso que aconteceu, por exemplo, em Ganja, a segunda maior cidade do Azerbaijão, que no sábado foi alvo de um ataque que matou 13 pessoas e feriu 45, atingidas enquanto dormiam nas suas casas. Os enviados internacionais presentes descreveram como as equipas de resgate passaram horas à procura de sobreviventes nos escombros de vários edifícios de habitação, enquanto retiravam corpos e acudiam a feridos com membros decepados.
O Azerbaijão disse de imediato que se tratara de um ataque com um míssil balístico. Antes, a Arménia acusara os azerbaijanos de bombardearam residências em Stepanakert, a capital da região separatista, etnicamente arménia mas reconhecida como parte do Azerbaijão.
“Provas fotográficas e de vídeo mostram os danos devastadores que estas armas podem causar, pelo que se sabe hospitais e escolas já foram destruídos e outras infra-estruturas civis vitais, como estradas e redes de comunicação foram danificados”, diz ainda a ONG.
Para além de Ganja, que “tem sofrido nos últimos dias repetidos bombardeamentos de artilharia”, os peritos da Amnistia referem que o mesmo tipo de armas tem sido usado na região de Nagorno-Karabakh.
Responsáveis separatistas e residentes deste território têm denunciado o uso de armas pesadas em zonas residenciais atacadas pelos azerbaijanos, o mesmo acontecendo com o Azerbaijão, que já viu várias cidades e vilas alvo de ataques desde o início dos confrontos, a 27 de Setembro.
A ONG tinha denunciado anteriormente que o Azerbaijão “usou com grande probabilidade bombas de fragmentação”, armas banidas pela sua enorme área de alcance e pelo facto de largaram centenas de mini-bombas, muitas das quais ficam por explodir e podem ser confundíveis com brinquedos. A Amnistia recebeu também denúncias por parte do Azerbaijão do uso destas armas por parte da Arménia, mas não conseguiu ainda verificar estas alegações.
Encontro em Washington
O actual conflito já fez centenas de mortes entre os militares arménio (o Azerbaijão não revela perdas militares) e vitimou perto de 100 civis. Nas últimas semanas – e apesar de tentativas sucessivas para fazer cumprir um cessar-fogo negociado pela Rússia – milhares de civis são obrigados a deixar as suas casas por causa dos confrontos.
Depois das tentativas de Moscovo, agora vai entrar em campo Washington: os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países já confirmaram que na sexta-feira se vão reunir nos Estados Unidos com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.
A Rússia e os EUA são co-presidentes do Grupo de Minsk (assim como a França), que assegura oficialmente a mediação do conflito desde o início dos anos 1990. A guerra entre as duas antigas repúblicas soviéticas terminou em 1994 com 30 mil mortos e nunca se chegou a negociar a paz. Ao longo dos anos tem havido alguns reacendimentos mas nenhum com as dimensões do actual.