Qual o papel dos canabinóides na aprendizagem?

Cientistas do Centro Champalimaud estudaram o papel dos canabinóides na aprendizagem de ratinhos mutantes.

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Cérebro de ratinho com fluorescência para destacar o cerebelo em forma de uma folha de marijuana Rita Félix

Investigadores do Centro Champalimaud (em Lisboa) estudaram ratinhos com alterações na via de sinalização do sistema endocanabinóide, que exibiam deficiências motoras e cognitivas como défices de aprendizagem e de memória. Acabaram por verificar que isso também está relacionado com o estado comportamental. Os resultados são publicados esta semana na revista científica eLife.

Os canabinóides são um grupo de moléculas que têm influência no funcionamento do cérebro e no comportamento. “Mas, na verdade, estas moléculas existem naturalmente nos nossos cérebros, onde participam em vários processos fisiológicos e cognitivos”, destaca-se num comunicado sobre o trabalho. “Quando a sinalização canabinóide é alterada, por exemplo, devido ao uso crónico de marijuana, o resultado são uma série de alterações motoras e cognitivas.”

Como ratinhos sem receptores canabinóides têm também níveis de actividade défices de aprendizagem e de memória reduzidos, uma equipa liderada por Megan Carey (do Centro Champalimaud) estudou o papel dos canabinóides na aprendizagem. Para isso, estudaram-se os mecanismos cerebrais envolvidos no condicionamento clássico – uma forma de aprendizagem em que os animais aprendem a associar um estímulo sensorial.

Já se sabia que o condicionamento clássico acontece no cerebelo (uma estrutura do cérebro) e que é prejudicada pela alteração da sinalização canabinóide. Nesta investigação foram então usados ratinhos mutantes sem receptores de canabinóides, que apresentavam défices no condicionamento clássico.

Acabou-se por verificar que o estado comportamental alterado nos ratinhos mutantes é o grande responsável por essa forma de aprendizagem no cerebelo estar comprometida nestes ratinhos. Já os ratinhos que não tinham receptores canabinóides no cerebelo tinham uma aprendizagem intacta no condicionamento clássico. Percebeu-se ainda que comportamentos que ocorrem no cerebelo, como a coordenação motora, eram normais nos ratinhos mutantes. “Estas experiências apoiaram ainda mais a nossa hipótese de que a sinalização interrompida dos canabinóides estava a prejudicar a aprendizagem ao alterar o estado comportamental, e não através de efeitos directos na plasticidade neuronal no cerebelo”, assinala Megan Carey.

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