Crédito ao consumo através de cartões volta a acelerar em Agosto
Total de novos empréstimos abrandou em quase todos os segmentos, com destaque para o automóvel.
O crédito ao consumo caiu ligeiramente em Agosto (menos 6,1%) face ao mês anterior, e de forma bem mais acentuada face a igual período do ano passado (menos 21,6%). Os novos créditos contratados no pico do Verão ascenderam a 504,4 milhões de euros, contra 534,4 milhões em Julho, e acima dos 420,3 milhões de Junho, este último já de recuperação face aos meses de Abril e Maio, parte do período em que o país esteve sob o estado de emergência por causa do surto epidemiológico de covid-19, que levou ao encerramento de muitas actividades económicas e comerciais.
O abrandamento neste tipo de crédito aos particulares verificou-se em todos os segmentos, mas pelo seu peso, os maiores contributos negativos vieram dos créditos pessoais sem finalidade específica, lar, consolidado e outras finalidades, com uma diminuição homóloga de 38,6%; do crédito concedido através de cartões de crédito, linhas de crédito, contas correntes bancárias e facilidades de descoberto (menos 18,7%), e do automóvel com reserva de propriedade de novos e usados, com menos 4% e menos 3%, respectivamente.
Face a Julho, o crédito concedido através de cartões de crédito, linhas de crédito, contas correntes bancárias e facilidades de descoberto aumentou 4,2%, atingindo 76,58 milhões, muito perto do valor registado em Março, e bem acima do registado em Abril e Maio, que caiu para 33 milhões e 41,5 milhões. Antes da pandemia, o montante deste tipo de crédito rondava os 100 milhões de euros.
O aumento daquele crédito, onde se inserem os descobertos das contas-ordenado, acontece numa altura em que muitas famílias estão a sofrer uma forte redução de rendimentos por causa da pandemia.
Na actual conjuntura, as moratórias de crédito, que permitem suspender temporariamente o pagamento da totalidade (juros e capital) ou de uma parte dos encargos com empréstimos, estão a ajudar centenas de milhar de famílias endividadas, mas estas medidas não abrangem todos os créditos, nem resolvem a situação de quebras de rendimento.
De notar que o recurso a este tipo crédito nem sempre corresponde a um necessidade de tesouraria, sendo muitas vezes utilizado para a compra de bens e serviços que o consumidor deseja e que acredita estar em condições de pagar no futuro.
No entanto, a concessão de crédito através de cartões de crédito é um dos segmentos que preocupa a Deco, pela facilidade com que os consumidores podem aceder a vários cartões, alguns deles contratados quando o plafond de outros já se esgotou, ou mesmo para pagar as mensalidades dos anteriores.
De 18 de Março a 30 de Setembro, a Deco recebeu 14.400 pedidos de aconselhamento financeiro. Nestes casos, a directora do Gabinete de Apoio Financeiro (GAF) da Deco, Natália Nunes, constata um aumento do nível de endividamento das famílias face ao rendimento disponível, a chamada “taxa de esforço”.
Em declarações ao PÚBLICO, Natália Nunes refere que a percentagem de rendimento que é destinada ao pagamento mensal dos empréstimos situava-se, naquele universo, em 80%, mais 5% do que em 2019.